O meu super ídolo
Quando nascemos não vemos logo todos as cores, nem de forma nítida e só focamos a uma distância reduzida. À medida que crescemos a visão torna-se mais colorida, límpida e abrangente. Os nossos pais ou cuidadores são as pessoas que vemos diariamente e em quem depositamos a nossa confiança e amor. Depois, vamos alargando o leque e trazendo para o círculo dos afectos aqueles que duma forma ou doutra nos cativam.
É normal que as crianças desenvolvam especial carinho pelos educadores, professores, treinadores, e por aí fora. À medida que vamos frequentando grupos, também aí tendemos a desenvolver laços de amizade com várias pessoas. A pessoa que dirige é aquela que mais amamos ou odiamos, consoante o grau de admiração. Estas pessoas têm um papel fundamental na educação e formação das crianças, mas também enquanto adolescentes e jovens, e até como adultos. O líder de um grupo é responsável pela orientação e formação de valores e crenças, seja um grupo desportivo, de teatro, xadrez, música, religião, entre muitos outros. Quando esse líder abusa do seu poder de influência, através da manipulação, usurpação, mentira, humilhação e força, estamos perante uma perturbação grave da formação do indivíduo.
A experiência que decorre de situações desta natureza provoca distúrbios de aceitação, confiança e aprendizagem, porque são associados a uma natureza negativa, que é maléfica ao desenvolvimento do ser humano. Somos seres sociais e precisamos do nosso contexto social para crescermos de forma sólida e estruturada, mas quando as bases são abaladas a construção tende a desmoronar e o renascer dos escombros pode ser muito difícil e tortuoso. Acredito que é por terem receio de como enfrentar esta tão grande adversidade no caminho, o colocar em causa escolhas e crenças enraizadas, o investimento de tempo e dinheiro em causas que se revelam infrutíferas, que tantas pessoas adiam a decisão inevitável, que negam os factos que têm diante de si e preferem não ver o óbvio, porque a dura realidade é cruel e é preciso um esforço muito maior do que continuar a subjugar a vida aos interesses dos outros.
Não sendo fácil abraçar a mudança, é inegável que ela é necessária, que é a única via libertadora da opressão, que é a força motriz única e necessária para abraçar novos desafios, que são escolhas livres das amarras que antes foram impostas. Ser livre para escolher, decidir e usufruir dos frutos dessas verdades. Se não há liberdade de pensamento, se a opinião individual não é tida em consideração, se em vez de um círculo temos uma pirâmide, em que ouvimos a cascata cadente, em vez de elevar a cúpula pelos degraus trilhados, então não pode ser verdadeiro.