Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O meu fim de ano - II

Paulo Sousa, 08.01.25

Depois de visitada a biblioteca, urgia seguir para os pontos seguintes do bilhete combinado. Em todas as paragens que se seguiram, no Palácio Real, na Capela de S. Miguel e no Laboratório Chimico, fomos sempre empenhadamente informados que as visitas seriam interrompidas para a pausa de almoço e que poderíamos regressar mais tarde com o mesmo ingresso. Bem sabemos como a “hora de almoço” merece no nosso país um respeito como poucas outras instituições, mas ali fui assaltado pela ideia de que toda a visita, toda a experiência de quem ali e desloca e se dispõe a pagar pelo ingresso, funcionava numa órbita planetária em cujo centro se encontravam o estômago dos funcionários. E digo com o mais elevado respeito pelos respectivos estômagos, mas tal e qual como ocorre numa normal relação com o estado, o principal enfoque destina-se ao prestador, ao intermediário. Ao utilizador, e pagante, resta-lhe colocar-se nos seus sapatos e aceitar que o mais importante fique em primeiro lugar.

Em passo acelerado e a toque de caixa, terminámos a visita no Laboratório Chimico. Depois do sinal sonoro que assinalava o fim da primeira parte, entraram em cena os seguranças (até ali não os tinha visto), que com a delicadeza possível puseram tudo a mexer dali para fora. Não estivessem inoperacionais tantas experiências ali expostas e teríamos ficado com pena de ter lá estado tão pouco tempo.

À saída, dei por mim numa cordial conversa com uma pessoa que ali trabalhava e transmiti-lhe que apesar de não termos dado por perdido o tempo da visita, estes três pontos, a impossibilidade de tirar fotografias, o condicionamento pelo horário de almoço e o estado do laboratório, limitavam o gosto que tínhamos tido na visita. Respondeu-me que na época alta (o fim de ano é época baixa!) trabalham ali mais pessoas e isso permitia que àquela hora rodassem entre eles e que assim evitam a pausa no final da manhã. Estranhei a explicação pois todos os funcionários que ali vimos estavam sempre aos pares, mas enfim. Perguntei-lhe se era possível apresentar uma reclamação, ao que me respondeu que sim, que fazia muito bem e que as queixas, especialmente sobre o estado das experiências do Laboratório, eram frequentes. Fazendo-o por escrito era uma forma de pressionar objectivamente os responsáveis no sentido de procederam aos melhoramentos que se impunham. E terminou com uma pérola, pedindo para que não registasse que alguém de entre os funcionários tinha sugerido a reclamação, não fosse colocá-los em trabalhos. Tão tuga, tão coisa antiga e serôdia. Fez-me logo lembrar o ambiente que se interpreta do ali vizinho CES.

Sabedor da facilidade dos meus compatriotas em reclamar em surdina, sem que disso passem (quem é que quer meter-se em trabalhos?) e uma vez que tinha em mãos o livro de reclamações, tive a curiosidade de verificar de que data era a anterior à minha. Mais uma vez lembro que a minha visita decorreu nos últimos dias de Dezembro. A anterior era de Fevereiro.

Num mundo em que qualquer restaurante, hotel, estabelecimento ou serviço é avaliado numa ou em várias plataformas informáticas, dando a conhecer ao mundo o que ali se pode encontrar, a reclamação, avaliação, é, ou devia ser, entendida como uma ferramenta de melhoria. Quando quem avalia, ou sugere uma avaliação, pode meter-se em trabalhos, é fácil de entender que o ambiente que ali se vive seja rígido e pouco disponível a mudanças.

É óbvio que quem julgue ter atingido um estado de superior de perfeição não entenda a necessidade ou qual o benefício em ouvir quem está do outro lado. Encontramos isso em demasiadas empresas e serviços públicos, mas todos ganharíamos se a cultura vigente tivesse mais encaixe para ouvir críticas e não as interpretasse como afrontas pessoais.

Recebi uma cópia da minha reclamação e fui informado que a respectiva resposta cumprirá os prazos legais. Despedimo-nos cordialmente com votos de bom ano novo.

Se considerar digna de nota, partilharei aqui os desenvolvimentos desta minha reclamação.

19 comentários

Comentar post