O método Costa
País legal e país real: uma vez mais, percebi como pode ser abissal a diferença entre uma coisa e outra. No sábado, que amanheceu soalheiro, as ruas, praças e jardins do meu bairro - Alvalade, em Lisboa - encheram-se de gente. A conviver, a "apanhar ar", a deter-se nos passeios, a espreitar as montras. A passear cães sem trela e trelas sem cães.
Acumulavam-se pessoas à porta dos mais diversos estabelecimentos: hipermercados, frutarias, papelarias, charcutarias, restaurantes a vender para fora, lojas de produtos para animais. Em ambas as entradas que dão acesso ao mercado, o melhor da capital, as filas agigantavam-se.
O trânsito automóvel era contínuo. E frenético. Como numa vulgar manhã de fim de semana antes da pandemia.
Uma amostra bem ilustrativa do que se passou no conjunto do País: nesse dia, cerca de quatro milhões de portugueses saíram à rua. Na véspera, tinham sido seis milhões.
Mandando às malvas o "dever cívico de recolhimento".
Enfim, um perfeito contraste entre o Portugal da propaganda e o Portugal que teima em antecipar-se ao Governo. Há um ano, enquanto António Costa hesitava sobre o rumo a seguir, as pessoas fechavam-se em casa, os pais retiravam os filhos das escolas, muitas empresas incentivavam os trabalhadores a optar pelo teletrabalho. Agora, fartos do "confinamento" pseudo-obrigatório, os portugueses saem de casa e deambulam por aí sem que ninguém os trave.
Ninguém diria que estávamos - e ainda estamos - em estado de emergência. Isso é pura ficção para entreter incautos e emitir mensagens "tranquilizadoras" nos telejornais.
Dentro de dias, o Executivo fará o que fez em Março de 2020: ir a reboque da população. Desta vez em sentido inverso. Limitando-se a pôr chancela oficial no facto consumado.
É um método de governar. O método Costa.