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Delito de Opinião

O melão vinha aberto

Sérgio de Almeida Correia, 05.06.25

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E eis que ontem chegou o XXV Governo Constitucional liderado por Luís Montenegro.

Poderia ter sido, verdadeiramente, um novo executivo. A final saiu-nos mais uma remodelação. Uma espécie de melão encetado e com partes tocadas. Há, contudo, aspectos, uns mais  positivos do que outros, que importa salientar. As talhadas do melão não são todas iguais e a exposição ao sol não foi equilibrada. Ainda assim olhemos para ele.

Se a saída de Pedro Duarte era uma verdade anunciada, e a de Pedro Reis inesperada, embora possam vir a dar mais pela sua falta na hora dos croquetes, já a continuidade de Castro Almeida, Pinto Luz e Ana Paula Martins poderá revelar-se a curto e médio prazo um imbróglio de difícil resolução, se não der escandaleira.

Castro Almeida, após um ano atribulado, em que se viu envolvido em várias, evitáveis, polémicas e decisões discutíveis a propósito da Lei dos Solos, e com um secretário de Estado forçado a demitir-se por más razões, vê os seus poderes reforçados com a atribuição da Economia. Não me parece boa opção a junção desta pasta com a da Coesão Territorial. Pela sua dimensão, peso político, atenção constante e esforço exigido. Ou o ministro se rodeia de secretários tecnicamente capazes e para valer ou acabará enredado em palpos-de-aranha.

Pinto Luz mantém uma área decisiva e da qual muito se espera e exige. A sua postura e perfil, proximidade aos lobbies e quantidade de "tachos" que estão em lume brando, e que tanto podem entrar em ebulição dentro de semanas como de meses, dependendo das agendas do Palácio Palmela, aconselhariam a sua substituição numa perspectiva prudencial. Montenegro pensou de maneira diferente. As fidelidades e dependências partidárias contam muito, embora me continue a parecer que o escolhido não tem perfil, nem técnico nem político, para o lugar, não oferecendo segurança a ninguém. Nem ao seu partido.

Quanto a Ana Paula Martins só entendo a sua permanência, perante o desastre que tem sido a sua actuação, com a impossibilidade de encontrar alguém com currículo, competência e suficientemente louco disponível para substituí-la. A sua continuidade na Saúde não encontra outra explicação na equipa de um primeiro-ministro que quando era oposição dizia à boca cheia que todos os problemas nesta área eram culpa da má gestão dos governos socialistas. Tem-se visto e vai-se continuar a ver a má, a péssima e a gestão desastrada da escolhida.

A lógica para a permanência de Paulo Rangel, Miranda Sarmento, Leitão Amaro, Nuno Melo, Rita Júdice, Fernando Alexandre, Maria do Rosário Palma Ramalho e José Manuel Fernandes é perfeitamente aceitável na perspectiva de quem dirige, cumpre um programa anteriormente delineado, e também na de quem assumiu funções em 2024 para uma legislatura de quatro anos. Isso dar-lhes-á oportunidade de prosseguirem o que iniciaram e no final apresentarem os resultados que foram capazes de alcançar.

A continuidade e reforço do papel de Margarida Balseiro, mais uma carreirista vinda da JSD, é uma má notícia. Não acrescenta nada, não constitui mais-valia em circunstância alguma. Se não tinha nada que a recomendasse como ministra, a não ser com a pasta do megafone e da propaganda, será ainda mais difícil vê-la a substituir Dalida Rodrigues na Cultura. É mais ou menos como a diferença entre ter alguém que completa em dois tempos um cartão do bingo e substitui-la por quem tem dificuldade em fazer uma linha por não saber colocar os feijões nas casas à medida que as bolas saem.    

Realço aqui a entrada de Gonçalo Saraiva Matias. Parece-me uma excelente escolha – como todas deveriam ser – pela preparação académica e experiência profissional, pelos conhecimentos, pela inteligência, por não depender do partido para nada e estar a fazer um trabalho muito meritório na Fundação Francisco Manuel dos Santos. O cargo que vai ocupar tem outro grau de exigência e só espero, para sorte nossa, que consiga sair-se bem deste novo desafio, esperando que desta vez não dure apenas três semanas.

Outra boa notícia é a entrada de Maria Lúcia Amaral. Mulher com currículo inatacável, competente onde elas faltam, jurista de mérito, sensata, e que sabe distinguir o interesse público de todos os outros que à volta deste gravitam, intelectualmente séria sob qualquer prisma de avaliação. Uma óptima escolha, uma boa surpresa, que espero não nos desiluda nas funções que vai abraçar e independentemente das posições que pontualmente possa defender em relação a algumas matérias, como aconteceu na questão da eutanásia. Montenegro pode e deverá ouvi-la, espero que com frequência, pois que com esta sua ministra só terá a aprender.

Nota final para a promoção do portista Carlos Abreu Amorim para o lugar de Pedro Duarte. Goste-se ou não do homem, do seu estilo, e por vezes da sua casmurrice e partidarite, se quiser e tiver bom senso para evitar asneirar e controlar os excessos, próprios e de alguns com quem terá de lidar, poderá fazer um bom papel.

Esperemos agora pelos secretários de Estado. E daqui a uns tempos voltaremos a falar.

Vêm aí tempos muito difíceis. Seria bom que se arranjasse um presuntinho simpático para acompanhar as talhadas que se aproveitarem.

Até lá, desejo-lhes boa sorte.

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