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Delito de Opinião

O medo

Maria Dulce Fernandes, 15.06.19

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Não é fácil amares o medo.
O medo é devastador, esconde-se no toque húmido de uma carícia, numa lágrima que rola, num beijo molhado, na troca de prazeres selvagens e desprotegidos, numa folha de papel afiada que faz verter uma gota carmesim.
O medo destrói. Mergulha nos teus fluidos ondulantes, insidioso e vil, acoita-se e desenvolve, cresce imundo e letal no teu seio. Aniquila de dentro para fora, mudo e traiçoeiro, até ser tarde demais.
Então ficas só. Isolada do mundo no mundo do medo.
Tens medo, aquele medo que não tem panaceia nem cura. Queres fugir, mas o medo não te permite sair do casulo de clausura a que foste votada, aquela cela estéril onde vives só, só tu e o teu medo. A humanidade, lá fora, ficou dentro de uma bolha hermética cujo toque não te toca, por não lhe poderes tocar.
O desespero enovela-se-te nas cordas de onde a voz não desata nem sai. 
No fogo da tua memória, sessões contínuas do filme da tua vida fogem da palavra fim.
O medo levou-te a força, mas a vontade resiste. Até quando, não sabes. Sentes a dissolução da carnadura, mas o espírito, esse lutará sempre aferrado com unhas e dentes ao medo que o quer destruir, porque aprender o medo é poder amá-lo e sobreviver.
 
Para o J. Saraiva, que perdeu a guerra contra o Medo há precisamente 25 anos.
 
(Foto da Internet)

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