O maior problema da democracia
O maior problema da democracia não está em reconhecer a vontade popular. Essa questão sempre existiu e os políticos que a ignoram estão por sua conta e risco, condenados à inevitável punição eleitoral. O maior problema das democracias contemporâneas é a captura das instituições por interesses especiais. Todos os conflitos importantes a que assistimos têm a ver com este fenómeno: na Catalunha, na União Europeia, nas presidenciais brasileiras ou nas nomeações para o Supremo Tribunal americano. Minorias mobilizadas, com influência nos meios de comunicação, nos partidos, nos mercados ou nas academias, tentam conquistar posições de controlo nas instituições que regulam a sociedade, manipulam a nomeação de juízes ou travam políticos emergentes, ignorando todas as opiniões contrárias. Na Catalunha, por exemplo, os independentistas são a minoria, mas tomaram conta das instituições regionais e da televisão pública, diabolizaram todos os que pensam de outra forma e não se incomodam em destruir a convivência. Esta semana estamos na fase final de um caso extraordinário da política nos EUA, onde um juiz nomeado para o supremo tem a sua vida devassada, acusado de ter cometido uma agressão sexual quando tinha 17 anos: ninguém discute a veracidade do caso ou os méritos do juiz, mas se bebia ou se esteve envolvido em lutas de bares durante a adolescência. A política transformou-se numa luta permanente, onde grupos minoritários tentam impor as respectivas agendas a todas as instituições, pequenas e grandes, sejam órgãos políticos ou associações, escolas ou empresas, júris de concursos ou cargos de liderança, espaços de comentário e até nas organizações que nada representam, mas que podem tornar-se úteis para a causa. Uma vez conquistada a instituição por estes interesses especiais, não entra ninguém de fora.