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Delito de Opinião

O Jardim "Zé Pedro" nos Olivais

jpt, 03.12.24

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Os Xutos fizeram os hinos da nossa geração, "Remar, Remar", "1º de Agosto", "O Homem do Leme", mais um punhado. Tiveram a postura da rebeldia da juventude, o enfrentar daqueles rústicos aldeões dos anos 70s portugueses, os mais-velhos de então, tão convictos de si-mesmos estavam, e eles a cantarem a recusa dos que "tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...". Depois, sucesso afora e vida percorrida, da postura fizerem pose, coisa mais do que legítima, artistas que são. Ou seja, o "X" não, o "X" que-se-lixe, o quase "no future" do punk, amansou, tornado mero requebro de fim-de-semana, intervalando a nossa vida de pais-de-família. Qual o problema disso? Até porque - justiça seja feita aos Xutos - nunca se armaram em paladinos de "anti-sistema", foram muito mais, estavam fora disso, assistémicos, se se quiser, nisto da clarividência máxima, do "a vida é sempre a perder"...
 
Um dia com eles pasmei. Num "assim tanto também não!", até irado, praguejando. Foi ao sabê-los ali em Chelas, onde foi o Cambodja, a partilharem o palco com um trio de presidentes (Marcelo, Ferro, Medina), estes a fazerem o "X". Percebi-os, os compromissos da velhice, mas virei costas. Sim, quando o Zé Pedro morreu ainda saí de casa e fui ali ao cemitério dos Olivais acenar uma vénia, de "X" armado diante do seu féretro. Teve de ser... Mas mais nada, desde aquele dia, servil, a banda é-me apenas uma cada vez mais vaga memória.
 
Agora soube que aqui nos Olivais, ali às Finanças - onde ele viveu em miúdo - se apresentou a estátua do Zé Pedro no jardim que passa a levar o seu nome, coisa de que se ouve falar há anos. Aqui nos Olivais, 32 000 eleitores no centro de Lisboa, onde a biblioteca está encerrada há cerca de quatro anos - sem justificação que não seja a incúria. Onde as gerações de gente algo pública ou menos conhecida, já partida, são deslembradas, sem "arte" ou "engenho" para animar uma "memória" social, nisso animar as vidas.. Onde a indução cultural se pensa como "animações gastronómicas" e festividades de Setembro... E onde a Junta é o que é, e desde há tanto tempo que o é, uma vergonha caciquista.
 
E olho este friso de "X". E Moedas, assim, a sufragar isto. "E uma vontade de rir nasce do fundo do ser..."

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