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Delito de Opinião

O indivíduo pelo que é vs o indivíduo pelo grupo a que pertence

Paulo Sousa, 13.10.19

Após as eleições legislativas do passado dia 6, fomos confrontados com algumas novidades, das quais destaco os novos partidos que pela primeira vez elegeram deputados. Falo do Chega, do Livre e o do IL.

A representação de cada um deles no hemiciclo de São Bento é limitada mas cada um representa novas e diferentes abordagens da realidade, com que naturalmente iremos ser confrontados.

Estes três partidos têm características em comum e outras que os distingue. Cada qual à sua maneira representam duas visões do mundo.

Num dos lados desse mundo estão aqueles que acreditam que uma pessoa vale pelo que é, pela forma com que enfrenta o mundo, pela forma como se relaciona com os demais, pela capacidade de dar e pelo que aceita em troca disso. Acham também que cada ser humano tem um potencial de acrescentar coisas boas ao mundo e por isso deve ser tido em consideração pela pessoa que é. Lidar com um desconhecido de acordo com esta abordagem é exigente e trabalhoso. Mais fácil seria classifica-lo pelo grupo em que o poderíamos encaixar. E essa é a abordagem alternativa. Essa é a abordagem que classifica o indivíduo de acordo com uma caracterização pré-definida e que dessa forma lhe rouba a individualidade. No fundo é uma abordagem preconceituosa, e o preconceito é um atalho de raciocínio que simplifica e poupa o esforço necessário à avaliação e ao conhecimento do outro. Tem um elevado potencial de criar erros de avaliação e por isso de impedir a realização pessoal das vítimas destas avaliações errôneas. No momento seguinte é a sociedade que fica a perder pela ausência do benefício que as vítimas destes preconceitos poderiam acrescentar aos seus pares.

Esta segunda forma de estar na vida, e também na política, é preguiçosa, é injusta e racista.

Para o Chega e para o Livre o indivíduo é menor que o grupo a que pertence e por isso não deve ser avaliado pelo que é. Um e outro dizem representar grupos em contraponto com outros grupos de uma forma em que é difícil encontrar pontes de entendimento.

Pelo contrário o IL, e o liberalismo que representa, defende que acima de tudo está o indivíduo. Avaliar o indivíduo pelo grupo a que pertence é redutor do seu potencial e isso não deve ser o motivo para que as portas do elevador social lhe sejam fechadas.

Não é o estado que deve reconhecer direitos ao indivíduo, mas sim o indivíduo que deve definir os limites do estado. O estado não é a concretização da liberdade pois o inverso é o que deve acontecer.

Após anos e anos em que a política esteve refém da economia, parece que finalmente o debate ideológico regressou à Assembleia da República. Os debates de quinta-feira vão ser mais interessantes e são bem vindos.

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