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Delito de Opinião

O homem em quem 67,63% dos eleitores não votaram no dia 4

Pedro Correia, 22.10.15

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Ponto prévio: as regras constitucionais estão a ser cumpridas. E é bom que isso suceda, a partir de agora, com total clareza e transparência - em clara dissonância com o sucedido na recente campanha eleitoral, marcada pela opacidade e pela dissimulação.
Ao responsabilizar-se de forma inédita, em sede parlamentar, pelo chumbo de um governo constituído pela força política vencedora das eleições, rompendo uma prática constitucional de 40 anos que permitiu viabilizar cinco executivos (quatro do PS e um do PSD), o partido liderado por António Costa assume todo o ónus consequente. Juntando os seus votos aos do PCP, BE e PEV para chumbar um Governo que dispõe de mais dez lugares no Parlamento do que tinha o executivo Sócrates, viabilizado em 2009, o PS embarcará numa aventura sem precedentes no quadro contemporâneo da sua família política europeia e de toda a sua tradição anterior - iniciada por Mário Soares em 1976.
Com isto Costa - o homem em quem 67,63% dos eleitores não votaram - volta a inovar. Já o tinha feito na noite de 4 de Outubro, quando não aplicou a si próprio, enquanto derrotado nas legislativas, a  ética da responsabilidade que exigira em 2014 ao vencedor das europeias, António José Seguro. A entrada no Governo pela  "porta dos fundos", como acertadamente a qualificou Sérgio Figueiredo no Diário de Notícias, é quanto basta para Costa se aguentar momentaneamente no precário poder interno socialista - o que parece ser a sua principal motivação para firmar um "arco governativo de esquerda" nunca sequer sugerido aos eleitores durante a campanha.
Dure esse hipotético executivo o tempo que durar, assegura-lhe num prazo curto o estatuto de ex-primeiro-ministro - espécie de via verde garantida em Portugal para atingir estatuto senatorial seja a quem for. Tem toda a conveniência pessoal nisso, portanto. Resta saber se é do interesse do PS. E - muito mais importante - se é do interesse do País. Mas nada como deixar passar o tempo, esse implacável e definitivo juiz.

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