Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O grande paradoxo das sociedades

beatriz j a, 07.02.22

Penso que foi Proust quem disse que não podendo mudar as pessoas entretemo-nos a mudar as instituições. Ele refere-se à natureza das pessoas, nomeadamente no que respeita à sua relação com o poder, mas a verdade é que também é difícil mudar as instituições. É que para mudar as instituições é necessário que as pessoas mudem, pois as mesmas pessoas, com a mesma natureza de apetência de poder, não produzem instituições diferentes. Pelo contrário, trabalham para a manutenção do seu poder. Veja-se como o PS já rasgou a proposta de tornar a nossa democracia mais representativa através da mudança da lei eleitoral. Só porque pode. E esse é o paradoxo. O poder gera mais vontade de poder e não vontade de mudar as instituições no sentido de maior justiça.

Por conseguinte, o que vemos quando olhamos para trás é que as grandes mudanças das instituições que mudam as sociedades são, por norma, precedidas de grandes acontecimentos catastróficos -geralmente guerras- onde quem mais sofre são os inocentes sem poder. É após esses acontecimentos que as pessoas mudam: ganham consciência das consequências das injustiças, da ganância de poder, da pobreza, da acumulação obscena de riqueza de uns à custa de outros, etc. e, durante um tempo agregam esforços e mudam, de facto, as instituições (quando isso acontece, porque também existem os casos de grandes guerras e revoluções produzirem mudanças institucionais piores, mais injustas). Depois, com o tempo, esquecem e deixam as instituições entrar de novo em decadência. Quase todos querem a paz mas poucos evitam as guerras. E parece que não saímos deste ciclo. A UE é uma grande aventura de tentativa de quebrar o ciclo, mas as forças de entropia são muito grandes: nacionalismos, populismos, intenções hegemónicas. 

16 comentários

Comentar post