O golpe mau e o golpe bom
O PCP, em sintonia com a Rússia de Putin, condena firmemente aquilo a que chama "autêntico golpe de Estado" na Ucrânia. Mas houve um tempo em que os comunistas portugueses apoiavam golpes de Estado. O de 19 de Agosto de 1991, por exemplo -- tentativa desesperada da velha guarda soviética de travar o passo às reformas de Mikhail Gorbatchov, resistindo a todo o preço ao desmoronamento da ditadura. Três dias depois, a golpada malogrou-se. E a obsoleta União Soviética recebeu aí o seu dobre a finados.
"Quando um dos meus colegas da rádio me comunicou que o Partido Comunista Português tinha anunciado o seu apoio ao golpe, não senti espanto, mas alívio, porque eu já não fazia parte dessa organização. Caso contrário, talvez tivesse morrido de vergonha ao confirmar que a miopia política dos dirigentes comunistas portugueses era bem maior do que eu imaginava. Depois caiu a noite trágica de 19 para 20 de Agosto, quando os tanques esmagaram mortalmente três jovens que lhes tentaram cortar o caminho para a Casa Branca, lugar onde se encontrava Boris Ieltsin", lembrou José Milhazes no seu blogue, Da Rússia.
Vinte anos depois, o PCP ainda chorava a "desagregação da URSS", confirmando nada ter aprendido. Nem com os próprios erros nem com as lições da História. Não admira por isso que os comunistas portugueses sejam os últimos defensores do indefensável: a Coreia do Norte, governada há sete décadas com punho de ferro pela dinastia Kim, monarquia vermelha que continua a merecer um indecoroso aplauso do "partido irmão".