o fim do mundo
Eu sei o que é estar à beira do abismo. Estou a olhar para ele, para o meu fim.
Esta frase é de Eduardo Lourenço, assim a disse, ontem, nas Correntes d'Escrita, edição 2014.
O meu coração encolhe-se.
O que quer dizer é que já não vê o futuro, que partilhou mais de 50 anos de vida com alguém que não está, que talvez possa deixar de pensar, de escrever, de querer saber. Não o diz assim. Nunca o dirá. Mas sente-o.
No Congresso Internacional Fernando Pessoa em Novembro de 2012, andando para cá e para lá, a ver a morte rondar, não parou um segundo.
Dei-lhe boleia. A minha mão nas mudanças, a dele na minha. Um gesto de conforto. De ternura. Os meus olhos ficaram nublados com a história que me contou. Não a repetirei, não é para isso que servem estes espaços. E, ao mesmo tempo, há no silêncio de algo que nos foi digo uma certa ideia de sagrado. Disse-lhe
Gosto de o ouvir pensar.
Parece-me holocáustica a forma como algumas das minhas pessoas estão tão perto do abismo. A justiça disso será o quê? A minha verdade é fruto da experiência, logo distinta da dos outros. O meu abismo é só meu. Gostaria de dar, a quem amo, planíces para caminhar, para gozar o sol, o silêncio. Um mundo plano, sem quedas. Depois repito o que sei ser verdade e, porventura, inevitável para todos
Eu sei o que é estar à beira do abismo. Estou a olhar para ele, para o meu fim.