Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O Fim

Maria Dulce Fernandes, 23.09.22

morte_poeta[1].jpg

Este é um postal um tanto pascácio.

É sobre O Fim.

Quem é que gosta de ler coisas secantes e deprimentes acerca da morte?

Eu, que costumo gravitar pelas novidades da blogosfera e dos blogues que costumo seguir, se me deparasse com uma dissertação sobre a iminente mortalidade de todos nós, saía da página a sete pés, porque coisas que nos ralem já nós temos em quantidade na nossa vida e não precisamos da opinião destrambelhada duma tipa que escreve umas coisas de vez em quando.

Podem não querer a minha opinião, mas eu dou-a na mesma. É de borla e só lê quem quer. A morte é a única certeza que temos na nossa vida a partir do exacto segundo em que nascemos. Não escolhe hora, idade, sexo, religião, raça ou extracto social. Chega quando quer, é silenciosa, eficaz e nós deixamos de ser.

“ – Hoje bateu forte, não?” Hoje e todos os dias, de há uns tempos para cá."

Dá que pensar e muito, naquilo que não queremos pensar. Já vos aconteceu num “Dia-Não” ou na véspera dum exame médico mais específico, por exemplo, olhar para o espelho e pensar “Se calhar já estou morta e ainda não dei por isso."

Penso que não tenho medo da morte. Penso hoje. Daqui a uns tempos e algumas doenças, quem sabe, mudo drasticamente de opinião? Não perco tempo a pensar se morrer é o final. Não me interessa, não quero saber… nunca ninguém voltou para contar como foi, por isso é coisa que não me preocupa. Não gostava de ficar para aí a vegetar sem noção do tempo nem do espaço, sem conhecer ninguém, sem controlo das minhas funções psicossomáticas. Poderá ser a morte pior que a completa perda de dignidade e humanidade? Poderá ser a morte pior que o sofrimento atroz de uma doença terminal?

Tenho cirurgia marcada para daqui a um par de semanas e a percepção das probabilidades é até animadora, mas o pensamento macambúzio insidia-se em qualquer nesga de boa disposição que ainda não esteja putrefacta e arruina-a num ápice.

Deixar tudo em ordem…

Faço mil e um malabarismos para não ter que acompanhar funerais, mas sei que há um em particular a que, por muito que não queira, não posso deixar de comparecer.

Quem é crente reza pelo reino dos céus, por um paraíso, seja em que religião for. Eu sou crente à minha maneira e no fim espero poder encontrar apenas paz.

 

(Republicado/Imagens Google)

14 comentários

Comentar post