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Delito de Opinião

O extremismo islâmico e a esquerda que se confronta com as limitações da sua própria visão do mundo

Rui Rocha, 15.10.14

À primeira vista, não deveria ser complicado estruturar uma crítica radical ao extremismo islâmico. Todavia, existe uma certa esquerda que se deixa assombrar por um indesmentível desconforto quando se trata de condenar expressamente as barbaridades cometidas pelos extremistas. A razão dessa incomodidade resulta, se não estou enganado, do facto de o extremismo islâmico colocar essa esquerda perante uma interpelação directa dos dogmas de fé que vai professando. Vejamos. O primeiro dogma dessa certa esquerda é o da negação da responsabilidade individual. Numa certa interpretação do mundo, todos os comportamentos desalinhados com um determinado padrão civilizacional são explicáveis através de motivações e circunstâncias sociais, políticas e económicas. A desresponsabilização por atitudes e comportamentos é inevitável. E sem responsabilidade não pode haver condenação. O segundo dogma esquerdista é o relativismo cultural. Todas as culturas são igualmente boas e nenhuma pode ser considerada especialmente propícia ao desenvolvimento da humanidade. Em conformidade, qualquer juízo de valor sobre determinado acontecimento está à partida condicionado. Não há juízo sem padrão civilizacional que sirva de referência. O terceiro dogma é o da equivalência moral. Na verdade, o único postulado moral absoluto que uma certa esquerda considera aceitável é aquele que diz que não há um juízo moral absoluto. Na falta de uma ideia definitiva de bem (ou de mal) , qualquer comportamento pode ser medido numa escala variável que é tendencialmente benigna e tolerante, independentemente da sua gravidade. A evidência é a de que o islamismo radical, como uma caricatura que enfatiza e exagera as características do modelo original, coloca essa esquerda perante as limitações insuperáveis da sua forma de entender o mundo. Não admira pois que a fractura fique exposta quando o politicamente correcto, bandeira última dessa esquerda, é confrontado com o entendimento que o islamismo radical tem do papel da mulher na sociedade ou com o tratamento que reserva a determinadas orientações sexuais.

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