O estado da arte
O problema dos humoristas em Portugal é que são como o estado islâmico: auto-proclamam-se. Alguns, como é o caso de Rui Sinel de Cordes, vão mais longe ainda nesse fascínio e trocam graças por mísseis e bombas contra um público que, evidentemente, não reage como eles gostariam. Não percebem os auto-proclamados humoristas que escolheram a mais difícil e ingrata de todas as artes, e que fazer rir muitos é para muito poucos. E quando isso não acontece, quando fatalmente constatam o fiasco, reagem como onze virgens ofendidas e vão fazer humor, enormes e injustiçados, para o seu micro-público amante de cintos de explosivos.
Não percebem também outra coisa muito básica: o direito à liberdade de expressão que lhes permite violentar todas as fronteiras (as dos outros, claro) é o mesmíssimo direito que assiste a esses outros para os crucificarem depois em praça pública. A mesma praça pública, aliás, e com a mesma violência.