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Delito de Opinião

O equívoco Mário Machado

João Pedro Pimenta, 15.01.19

 

A famigerada entrevista de Mário Machado por Manuel Luís Goucha (isto dito assim seria digno de um jornal satírico), além de levantar celeuma pela qualidade do entrevistado, dividiu um pouco as hostes da micropolítica. Parece que pelo facto de alguma esquerda bramir contra a entrevista, alguma direita pespega com exemplos aparentemente equivalentes que tiveram honras de entrevistados ou até de colunistas, como Camilo Mortágua, Isabel do Carmo ou Otelo Saraiva de Carvalho. Nuno Melo, cabeça de lista pelo CDS às europeias, por exemplo, é um dos que caem nessa armadilha, mais digna de conversas de rede social. É que tirando talvez Otelo, pela sua ligação às tenebrosas FP-25, é difícil equiparar Machado a qualquer um dos outros, e muito menos a Mariana Mortágua, que surge à baila. O equivalente directo seriam as redes bombistas dos anos setenta, também com crimes nas mãos, como o da morte do Padre Max (já depois do 25 de Novembro), cujos autores nunca foram punidos nem sequer condenados. Um dos prováveis autores morais, aliás, teve um elogio póstumo do mesmo Nuno Melo, o que talvez ajude a explicar o esquecimento.

A ver se nos entendemos: Mário Machado não é um político, nem representante de um sector político, tirando uma dúzia de neonazis. É um delinquente e um psicopata, preso por associação a grupos de criminosos e assassinos, posse de arma, ameaças, etc. Ultimamente tem arquitectado planos para dirigir a Juve Leo, depois da bela operação criminosa que as cúpulas da claque sportinguista protagonizaram, e de uma facção de motards, Los Bandidos, não exactamente conhecidos por actos de beneficência. Talvez a indignação de alguma esquerda por lhe darem a palavra, desde que não lance mensagens de ódio, seja contraproducente e oportunista. Mas a defesa, ou pelo menos a ausência de crítica de alguma direita, fazendo equiparações abusivas, dá a impressão de que tolera Machado, ou que não se incomoda grandemente com ele, passando a ideia de que ele é o radical do "seu lado". Dar importância política a quem tem somente importância criminal, eis o profundo erro dos que recordam eventuais equivalências do outro espectro.

Mas há ainda outra aspecto esta história toda que me deixa espantado: é a pergunta "acha que faz falta um novo Salazar", e sobretudo que Mário Machado ache que sim, É que com o currículo de desordeiro que tem, o mais provável é que no tempo de Salazar ele fosse posto na masmorra ainda mais anos.

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7 comentários

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    Sarin 15.01.2019

    Mário Machado é apenas um criminoso violento e arruaceiro que questiona o poder por ódio - que lhe sobra para distribuir por outros temas.
    No tempo de Salazar, podendo embora dar largas ao ódio, não se contentaria com seguir ordens e rapidamente estaria a braços com o aparelho. Seria um criminoso em qualquer regime.
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    Makiavel 15.01.2019

    Discordo em absoluto. Mário Machado não é apenas um criminoso. É um criminoso condenado por crimes com motivação política. Não é um criminoso de delito comum.
    No tempo de Salazar, estaria às ordens do director-geral da PIDE.
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    Sarin 15.01.2019

    O ódio serve políticas, não é política por si mesmo. Mário Machado é criminoso por ódio e ânsia de poder, projecto político nenhum.
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    Makiavel 15.01.2019

    O que diz é daquelas afirmações que não adianta nem atrasa para o assunto.
    O homem foi condenado por envolvimento num crime com motivações racistas que levou à morte de um cidadão. Não foi um assalto. Não foi uma rixa comum. Foi deliberado e tinha como objectivo um africano, por ele ser africano.
    Haja pachorra para tanta tergiversação.
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    Sarin 16.01.2019

    Portanto, racismo é uma questão política e não uma questão de ódio social.

    E quando ataca homossexuais, é uma questão política.
    E quando se alia aos Los Bandidos ou tenta a liderança da Juve Leo, é uma questão política.
    Roubo, sequestro, coacção, tudo motivações políticas.

    Já agora o homem não foi condenado por um crime, foi condenado por vários em cúmulo jurídico, incluindo ameaças a uma procuradora da República. Em nome de um projecto político, certamente.
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    Makiavel 16.01.2019

    Todos essas acções que apontam pertencem a um modus operandi de um projecto político.
    Considerar os crimes em causa como sendo de delito comum, esvaziando-lhe a carga política a eles inerentes é de uma miopia para cima de oito dioptrias.
    Acho que o Machado ficaria muito desiludido com esse esvaziamento de significado em que ele tanto se empenhou.
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