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Delito de Opinião

O elefante na loja de porcelanas

Luís Naves, 26.11.14

Negar os factos evidentes só é possível até certo ponto, pois a realidade tem sempre razão. Apesar disso, o País habituou-se a negar o óbvio. Foi assim durante o endividamento que nos levou à falência, foi assim durante a austeridade, é assim agora: Portugal está a sair da crise, mas em vez de discutir o futuro, corre sérios riscos de se meter numa conversa de surdos sobre o passado.

O ex-primeiro-ministro José Sócrates foi detido, havendo suspeita de crimes graves, mas vejo sobretudo comentadores que questionam a saúde do estado de Direito e a própria sobrevivência do regime democrático. Alguns sectores do Partido Socialista parecem dispostos a tomar a Bastilha, para libertar o ilustre prisioneiro, livrando assim o País da perigosa conspiração de sinistros poderes justicialistas. Como mostra a recolha de citações que Pedro Correia publicou na séria ‘A Cabala’, neste blogue, muitos autores ainda não perceberam que o assunto não vai desaparecer por magia. Alguns gostariam que o caso fosse enterrado, embora não expliquem como é que o inquérito pode morrer à nascença sem que isso seja negação de justiça ou péssimo funcionamento das instituições.

O inevitável interesse do público pelas peripécias do caso não pode transformar-se num ambiente de histeria ou de pressão. Isto devia ser simples, mas as emoções estão à flor da pele e o PS, incapaz de lidar com a herança dos anos Sócrates, tem mostrado por estes dias algumas divisões insensatas. O que parecia ser um passeio para a vitória está a transformar-se num pesadelo trágico. Estamos perante um exemplo extremo de não se ver o elefante na loja de porcelanas. Só até à acusação, o assunto pode durar um ano, condicionando toda a campanha para as eleições de 2015. Mais valia perceber isso já, em vez de tentar negar a realidade. É que quanto mais politizado estiver o caso, pior será para os socialistas.

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