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Delito de Opinião

O dia mais longo

Pedro Correia, 11.09.21

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Lembro-me perfeitamente. Estava em casa, com a televisão ligada, quando surgiu no ecrã a surpreendente imagem de uma torre do World Trade Center em chamas. Já não consegui desviar os olhos da CNN, lembrando a primeira vez que estive em Nova Iorque, ainda miúdo, em 1974: as Twin Towers, recém-inauguradas, eram então o mais recente cartaz turístico da cidade por terem roubado ao Empire State Building um título de quatro décadas - o edifício mais alto dos EUA e do mundo. Na sua aparente simplicidade arquitectónica, funcionavam como uma proclamação à escala global, numa espécie de alegoria da superioridade do sistema capitalista em plena Guerra Fria. Tornaram-se, deste modo, um símbolo odiado por todos os inimigos dos Estados Unidos.

Assisti em directo ao embate de outro avião contra a segunda torre. E adquiri naquele instante a certeza de que se tratava de um ataque terrorista - o mais inimaginável, brutal e espectacular alguma vez registado. Pela primeira vez desde Pearl Harbor, os norte-americanos viam-se atacados no seu próprio território. Minutos volvidos, quando um terceiro avião caiu sobre o Pentágono, ganhou-se consciência de que o século XXI começava verdadeiramente naquela data inscrita em letras de sangue na História - 11 de Setembro de 2001. E começava da pior maneira, com uma autêntica declaração de guerra do terrorismo islâmico contra Washington que prometia restringir direitos, liberdades e garantias à escala global.

Ainda não sabíamos então que um quarto aparelho, despenhado na Pensilvânia, visava inicialmente o Capitólio ou a própria Casa Branca, tendo os terroristas sido impedidos de concretizar este macabro plano pela valentia de um punhado de passageiros que os enfrentaram desarmados sabendo que nada mais os esperava senão a morte. A quem ainda não viu, recomendo a propósito o filme Voo 93, de Paul Greengrass (2006), que narra este emocionante acontecimento, parcela de um drama mais vasto.

Foi o dia mais comprido de que tenho memória. Um dia que para mim viria a terminar só a meio da madrugada seguinte, após uma maratona de trabalho no Diário de Notícias, integrado numa equipa de dezenas de jornalistas que produziram uma edição especial sobre o 11 de Setembro. A História escrevia-se em directo, frente aos nossos olhos.

Vinte anos depois, as imagens dos edifícios em chamas perseguem-nos. O mundo está mais perigoso, mais crispado, mais inseguro. E menos livre.

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