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Delito de Opinião

O dia em que a I República morreu

19 de Outubro de 1921

Pedro Correia, 19.10.21

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Faz hoje cem anos, ocorreu uma das páginas mais trágicas dos últimos dois séculos da história de Portugal. A noite em que o presidente do Ministério (cargo equivalente ao primeiro-ministro actual) e dois dos heróis do 5 de Outubro de 1910 foram cobardemente assassinados por uma turba armada, com óbvias ligações à facção mais radical do poder republicano e das suas ramificações, como a Carbonária e a "formiga branca".

Em poucas horas, criminosos com fardas da Marinha e da Guarda Republicana liquidaram António Granjo, António Machado Santos e José Carlos da Maia, entre outros, confirmando a república de Afonso Costa como um regime de terror, aliás fundado no duplo homicídio do Rei D. Carlos e do príncipe real, D. Luís Filipe, em Fevereiro de 1908, e prosseguido no assassínio de Presidente Sidónio Pais, em Dezembro de 1918.

Os vultos que tombaram nessa noite sangrenta de 19 para 20 de Outubro de 1921 simbolizaram o fim precoce desse regime implantado onze anos antes. Em década e meia, a chamada I República teve oito presidentes e 45 governos - qualquer deles sem a menor capacidade para exercer tarefas mínimas de condução do País. Conheceu uma junta revolucionária, diversos pronunciamentos militares, dois períodos de suspensão declarada das garantias constitucionais, atentados bombistas em sessões contínuas, censura à imprensa, presos por delito de opinião, um número infindável de crimes políticos de diversa ordem - grande parte dos quais permaneceu impune.

Viria a cair em definitivo a 28 de Maio de 1926. Mas implodira antes, nessa noite de trevas ocorrida há cem anos exactos. Uma efeméride de que mal se fala, que quase ninguém recorda, que muitos apagaram como se jamais tivesse existido - incluindo vários historiadores com agendas selectivas. 

À época, os maiores críticos da I República não eram monárquicos, ao contrário do que apregoa a vulgata, mas os republicanos mais lúcidos - como os que se reuniam em torno da revista Seara Nova, fundada também há cem anos. No fundo, poucos defendiam uma república onde a oposição era silenciada à bomba e toda a dissidência era paga com a masmorra, o degredo ou a própria vida. Ninguém hoje toleraria viver num regime semelhante a esse.

Tinha pouco mais de 15 anos quando agonizou e morreu. Mas já estava ligada à máquina desde aquela noite sinistra. E quase ninguém chorou por ela.

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