Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O despacho

Pedro Belo Moraes, 02.07.22

Tudo despacha o PS: Crises de Governo, desautorizações entre os membros que o compõem, mais as vergonhas políticas públicas que disso advém. São disso exemplo os dois protagonistas do mais recente caso da arte de aviar, de apressar a difusão da ideia de que nada aconteceu na governação do país, que está tudo bem, que nada passou de um ligeiro mal-entendido, de um simples "erro de comunicação".

E, na minha opinião, nenhum deles se humilhou, como clamou a esmagadora maioria do comentariado politico ao descrever a desfaçatez e a ligeireza que nos serviu o ministro das infra-estruturas. O que Pedro Nuno Santos fez foi ter cara de pau. Vestiu a pele do queirosiano e arrependido Dâmaso Salcede para salvar a carreira. Tivesse ele sido o honrado Egas Moniz e teria oferecido a vida como paga pelo incumprimento da promessa feita ao rei de Castela. E hoje não estaríamos tão mal. A propósito, neste alarmante episódio do estado do Executivo, António Costa, o rei das jogadas palacianas e tácticas de bastidor, serviu-nos aquela inefável postura da Gioconda com o seu intrigante e não menos irritante sorriso que disfarça a verdadeira história.  

O despacho publicado em Diário da República, assinado pelo ministério de Pedro Nuno Santos,  é claro: o Governo decidiu construir dois novos aeroportos para Lisboa. Um temporário no Montijo, outro definitivo em Alcochete.

Ou não. Ou não!

Nem 24 horas passaram sobre o anúncio e o primeiro-ministro comunicou publicamente que o despacho do ministério das Infra-estruturas seria revogado. Ou seja, se a decisão da solução aeroportuária tinha sido do Governo, como se lia no decreto entretanto anulado pelo Chefe de Governo, temos de concluir que há um Governo dentro do Governo. 

Discorda António Costa daquela decisão anunciada por Pedro Nuno Santos? Ou não tinha conhecimento que aquilo estava a ser burilado pelo seu ministro? E o alegado erro de comunicação foi então o de que o plano da maior obra pública em décadas não lhe foi comunicado?

Seja qual for a resposta será sempre grave para António Costa. Ou não diz tudo, ou tem um ministro em rédea solta no seio do Governo ou o Governo é totalmente incompetente despachando em Diário da República o novo aeroporto de Lisboa, os mesmos despacho e obra  que acabaram despachados.

Leituras e análises a este episódio inédito na nossa democracia têm sido muitas. A minha, e admitindo que não conhecemos os factos todos, suporto-a no facto do ministro permanecer no Governo. Não ter saído. Nem ter sido corrido. Circunstâncias que me levam a concluir ter sido esta uma disputa partidária. Conhecendo-se as pretensões de Pedro Nuno Santos e o peso que tem no PS para concretizar o sonho de ser o seu secretário-geral, fica mais plausível a teoria de que Costa optou por manter o adversário por perto. Tê-lo fora seria muito mais trabalhoso. E, acredito, já lhe canse recorrer tantas vezes à expressão da Gioconda.

O Governo está, portanto, capturado pela guerra interna no Partido Socialista. Partido que nos últimos 26 anos governou 19. E isso não lhes deu experiência de decisão acertada, deu-lhes experiência de poder e muita arrogância política. Soberba, mesmo. Traços cada vez mais grosseiros nos socialistas que despacham tão facilmente más governações, crimes cometidos por quem as chefiou, golpadas no seio do Executivo, crises económicas e financeiras só resolvidas com intervenção externa, caos no SNS. E podia continuar a despachar exemplos.

12 comentários

Comentar post