O conflito entre a União Europeia e a Rússia.

A crise na Ucrânia evoluiu de tal forma que está em risco de ocorrer uma guerra civil prolongada, que só não levará a uma intervenção externa se a Rússia não quiser. Sempre achei que foi uma grande ingenuidade a União Europeia ter-se envolvido nesta questão com o apoio precipitado a um grupo de manifestantes, que desencadearam um golpe de Estado para depor um governo hostil à União Europeia. O resultado foi a sua substituição por um governo hostil à minoria russa, que desencadeou a sublevação das regiões do país em que esta minoria reside. Depois da Crimeia, são agora as regiões de Donetsk e Lugansk que decidem em referendo a secessão da Ucrânia. Actualmente bem se pode proclamar a ilegalidade destes referendos, mas esta proclamação soa a estranho vinda de um governo eleito numa praça, e sabendo-se que a própria Ucrânia se proclamou independente da URSS graças a um referendo.
Como bem salientou Gerhard Schröder, a União Europeia nunca poderia assinar um tratado de associação com um país tão dividido como a Ucrânia sem acautelar os interesses da minoria russa. Por vezes as pessoas vivem em países tão etnicamente unidos que não compreendem que noutros países há questões muito sensíveis com minorias, que se vêem como próximas de Estados vizinhos, e que não aceitam uma política hostil a esses Estados. Neste momento, na Ucrânia a Europa é sinónimo de Alemanha, e o actual Governo é visto como um Governo pró-alemão e hostil à Rússia, que até inclui grupos nacionalistas radicais, como o Sector Direito e o Swoboda. Aliás, a sua primeira decisão foi proibir a língua russa no país. Só uma grande insensatez dos actuais dirigentes europeus é que podia levar à assinatura de um Tratado de Associação com um governo destes. O resultado disto vai ser a implosão da Ucrânia, e provavelmente não se vai ficar por aqui, uma vez que a Moldávia pode ser o próximo país a ser objecto de uma revolta da população russa.
É preciso ter consciência de que neste momento há uma clara disputa de zonas de influência entre a Rússia e a União Europeia. Esta ambiciona estender a sua influência até às fronteiras da Rússia. Por sua vez a Rússia ambiciona construir uma união euro-asiática, onde manteria as suas tradicionais esferas de influência. Já houve guerras que começaram por menos.