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Delito de Opinião

O comentário da semana

Pedro Correia, 27.11.17

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«Olha, desde miúdo que convivo intimamente com elas. Na infância e puberdade com as lá de Tomar, que os meus avós tinham nas pequenas propriedades, figueiras, oliveiras, macieiras, pereiras, nogueiras, amendoeiras, nespereiras, cerejeiras, ameixeiras, laranjeiras, pessegueiros e mais algumas de fruto de que agora me não lembro e mais os pinheiros bravos e mansos (estes cujo fruto também se come e é delicioso) e os choupos e os freixos e os vimeiros e os chorões à beira do pequeno ribeiro que atravessava a horta. A determinada altura, já na juventude, deu-se a invasão do eucalipto, que foi roubando espaço ao pinhal (eu não sou contra, desde que com conta, peso e medida).
Havia também uma acácia enorme, linda, em frente à casa. Na cidade havia (e há) uma panóplia enorme na Mata Nacional dos Sete Montes (a Cerca - do Convento de Cristo) e pela própria cidade, predominando o choupo nas ruas e avenidas, havendo alguns jacarandás e plátanos.


Cá em casa, contadas assim de repente, há cinco variedades de ameixeiras, algumas no mesmo pé, que é de amendoeira, que tem uma vida mais longa, duas de cereja, na mesma árvore ("dão" pouco, faz pouco frio em Caneças), duas variedades de nêsperas, cinco de pessegueiro, três de figueira no mesmo pé, seis de pereira também num só pé, um abacateiro, uma anoneira que produz que se farta (ainda hoje colhi uma com 800 gramas e mais meia dúzia com mais de 1/2 kg), três variedades de romã, também na mesma árvore, uma laranjeira e uma clementina e um marmeleiro e uma bananeira e mais uns pés de videira que parecem árvores, que me dão uma trabalheira desgraçada, mas que me dão um enorme prazer. As glicínias, que também estavam enormes, foram cortadas p'lo pé, que já me estavam a dar cabo das árvores vizinhas e exigem uma manutenção "sempre em cima", desisti.

Este ano as folhas não caíram ainda na maior parte delas, as que já as deviam ter perdido, mas a pré-poda já teve que ser feita e elas já estão a "rebentar". Se o meu avô fosse vivo, diria "isto é dos astros, Mundinho", mas eu sei que não é nada dos astros.


Para terminar, por dever de ofício, durante muitos anos andei na rua e fui assistindo à plantação de muitas árvores sem qualquer critério e completamente desadequadas para o meio urbano, como as pimenteiras, para dar um exemplo flagrante, ou o próprio local onde as plantam, ou as podas radicais que se fazem só porque "é hábito" nos plátanos, matando-os aos poucos.

São bonitas, as árvores na cidade, mas seria bonito que os paisagistas e os urbanizadores se preocupassem em adequar as espécies aos locais, para depois os moradores não levarem com os ramos das árvores nas janelas e elas não se tornem um convite à ladroagem. Os próprios choupos, que como dizes resistem muito bem a ambientes poluídos, são hoje inimigos de um nosso bom amigo, o ar condicionado. Portanto, em resumo, as árvores sempre primeiro, mas se não for dar muito trabalho, que sejam adequadas aos locais onde são plantadas.»

 

Do nosso leitor Edmundo Gonçalves. A propósito deste meu texto.