O comentário da semana
«Faço parte de uma geração de jovens médicos que se deslocou para Beja vindos do Porto, de Coimbra e de Lisboa. Um traço comum entre os elementos desse grupo era um certo idealismo, ainda que sentido em diversas tonalidades.
Uma parte desse grupo foi ficando, passaram-se quase quatro décadas e alguns resistem. No que me diz respeito, passo a um registo pessoal. Em 1980, vinha engajado na militância de desenvolver os serviços de saúde numa perspectiva de integração e na missão pública. Apesar de ter uma vivência de centros urbanos muito maiores, não me foi difícil adaptar-me às características da cidade e da cultura dos seus habitantes.
Trilhei os primeiros vinte anos da carreira com paralelo envolvimento cívico. Contribuí com o meu trabalho para a evolução e crescimento do Hospital de Beja. Vi que a cidade crescia e as mentalidades evoluíam. A aldeia parecia estar seguramente a ficar num tempo passado.
Entrámos num novo milénio determinados a enfrentar os desafios. Parecia-me que essa era a atitude da Elite Bejense. Ilusão minha. Os anos vieram a demonstrar a descrença em si próprios que tomou conta dos bejenses. Passividade, inibição, conformismo, ausência de atrevimento criativo.
Qual o factor que determinou que esse derrotismo se instalasse nas mentes? Não sei, não avanço qualquer hipótese. Parece-me que os recursos materiais e naturais existem aqui. Mas o aproveitamento das potencialidades depende da iniciativa dos indivíduos. É este um problema educacional ou sociológico?»
Do nosso leitor José Frade. A propósito deste texto do João Espinho.