O comentário da semana
«Não convém esquecer desta violação grosseira [acordo ortográfico de 1990], cometida com requintes de bestialidade primitiva, no simples acto despótico do legislador.
Na minha opinião é matéria clara para o Tribunal Constitucional.
A Constituição nos seus artigos 9º e 11º refere-se à língua portuguesa em vigor aquando da aprovação, e a mais nenhuma outra.
Isso implica a forma oral e escrita.
A legislação sobre a língua não pode ser feita ao gosto da leis ocasionais dos governos, tem que ser referendada.
Não vou entrar nas conversas sobre o que faz ou não faz sentido.
Já sabemos dos exemplos e contra-exemplos.
O ponto fulcral que o Pedro aqui assinala, e muito bem, é o da estabilidade.
A nossa língua está estável na sua forma falada há mais de 500 anos, conforme atestam os documentos mais antigos a que temos acesso impresso.
Durante todo este tempo sofreu alterações de forma escrita, e foram muitas ao longo destes 500 anos, umas com mais "h" que outras.
Por um breve período de 50 anos adquiriu uma estabilidade sem paralelo, e que era factor de união com os países lusófonos africanos, onde era igual, e nesse acordo de 1946 foi estabelecida a melhor harmonia com o Brasil, dentro das pequenas diferenças.
Eu não me importo de ver escrito português num formato brasileiro, sempre achei que era igualmente possível, e se os brasileiros se entendem assim, isso não causa maior mossa.
Não me importo que os documentos informais, como a Wikipedia, e outros, sejam escritos nesse formato comum.
Não me importo que os documentos entre Brasil e Portugal usem essa grafia.
A Inglaterra tem o mesmo problema com os EUA e nunca se importou.
A solução mais simples é admitir que ambas as grafias são possíveis.
Ponto final.
Nunca a Inglaterra abdicou da sua língua original, em termos de património, acima de acordos pragmáticos de vivência.
O que está em causa neste acordo é que com o pretexto de se usar a forma fonética se está a destruir a forma fonética, porque se não lemos o "c" em "espectador", havia uma diferença clara entre "espetador" e "espétador".
Porque o "c" servia a acentuação.
O contexto não resolve tudo, e o exemplo óbvio disso é o "pára" e o "para".
Casteleiro foi um indigente encarregado de trabalhar uma coisa séria, e isso foi propositado, porque certas partes da maçonaria gostam de usar a confusão e destruição de memória pública como móbil privado.
O problema, como é óbvio, é que há certos assuntos que são muito mais delicados do que parecem à primeira vista.
Tanto podemos ter inocentemente o cábula a preferir tirar os "c" todos porque assim é mais fácil escrever, como podemos ter cabala em vez de cábula.
Gosto de exemplos com o Ph.
O nome "Púnica" é suposto ter derivado da transliteração do "phi" grego que passou "Phoenicia", ou seja Fenícia, tirando letras sucessivamente "Poenicia" ou "Punicia" e "Punica".
Assim, quando falamos em "Guerras Púnicas" deveríamos falar em "Guerras Fenícias", mas já nem era bem isso, porque era então com os fenícios de Cartago.
Assim, a transliteração do grego para o alfabeto latino sempre originou problemas. Não foi só recentemente, e podemos ver quando fundo isto pode ter ido, com pai e mãe:
- Em latim, pater e mater, em grego, patera e mêtera.
No português temos pouca correspondência com padre e madre.
No inglês é interessante ver como a colocação de "h" pode ter levado ao que conhecemos, ou seja, "phather" e "mather"... daqui aparece a passagem conhecida do "ph" para "f" ficando "father" e a pronúncia de "mother" usa o "o" como "a".
Se este exemplo pode ser dúbio, não restam dúvidas de como o "Ch" foi usado como passagem a "K" ou não, entre outros.
Por exemplo, ler "Charles" como "Sharles", mas ler "Chaos" como "Kaos".
Este convite à confusão é antigo, e serve poderes que o conhecem contra populações que o desconhecem.
Irrita-me haver gente favorável às modas, quando são as modas que conduzem o rebanho, e já basta o que basta, quanto mais ouvir os "méeee" concordantes.»
Do nosso leitor daMaia. A propósito deste meu texto.