O comentário da semana
«Fixei o nome do poeta, que me encanta, de uma bela forma: há uns anos, regressada de uma ida a Lisboa numa noite muito chuvosa, apanhei um táxi para casa e, já à porta, o motorista perguntou se gostava de poesia; como disse que sim, recitou um poema (que quero crer fosse o "Regresso", mas às vezes tenho memória de peixe) e disse o nome: Manuel António Pina. Só aí fixei e, apesar de já ter estado, uns tantos anos antes, com livro dele nas mãos, na livraria Poetria, na rua das Oliveiras, só o comecei a ler verdadeiramente depois da morte.
E são estas coisas que contam, os versos na parede e as boas palavras de quem nos traz o prato à mesa ou de um taxista que perde cinco minutos para dizer um poema a uma passageira.
E Manuel António Pina tem o condão de trazer a delicadeza das pessoas à tona. Na Bertrand, em Dezembro, comprei um livro de poemas escolhidos, que o meu pai levou até à livreira que fazia os embrulhos. Quando regressou disse-me: olha que o teu livro fez com que a cara da menina se iluminasse a olhar para mim, nem olhou para o Churchill, disse-me: "O senhor leva aqui um grande livro, sabe, o meu pai trabalhou com ele no Jornal de Notícias".»
Da nossa leitora Isabel Paulos. A propósito deste meu texto.