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Delito de Opinião

O comentário da semana

Pedro Correia, 06.10.19

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«Eu sou uma das mulheres retratadas nesta exposição. Além disso, já participei em inúmeros projectos de sensibilização, conferências científicas e dei a cara por este tema, no maior semanário nacional.
Não o fiz por ser uma personalidade pública mas, precisamente, por não o ser. Por ser uma ilustre desconhecida, igual a tantas outras, que engrossam as estatísticas negras do cancro da mama.

 

Devo dizer-lhe que “até me ter tocado” pensava da mesma maneira. É do meu foro privado, só a mim e aos que me são mais próximos diz respeito. Ia às minhas consultas, fazia as minhas pesquisas e não falava com ninguém. Não sou/era de falar ou meter conversa com quem não conheço.
Tudo mudou na altura em que, por uma questão de delicadeza, aderi a um grupo fechado no Facebook de mulheres portadoras de neoplasia da mama. A partir daí percebi que manter-me afastada, a viver a minha doença de forma privada, já não era opção.
Percebi que há mulheres (demasiadas) que saem das consultas com dúvidas que, para mim, eram inacreditáveis. Percebi que há quem tenha vergonha de colocar perguntas aos médicos, que não saiba o que é uma metástese, um gânglio, um marcador tumoral ou uma biópsia. Que não faz ideia do que é um cateter central ou periférico, que ignora o que seja uma PET, cintilograma, uma mutação genética ou toda a parafernália de “palavras novas” com que são bombardeadas. E não falo de senhoras com mais de 60 anos mas, principalmente de “miúdas” nos 20/30 anos (que são quem mais se vê).


Foi aí que, modestamente, senti que poderia ajudar. E sei, pelo feedback que tenho tido, que ajudo.
Por isso me exponho. Por isso continuarei a expor-me enquanto perceber que essa exposição pode ajudar alguém.
Não se pense, porém, que é uma forma de estar altruísta, que não é. Também eu fui ajudada (e de que maneira) por outras mulheres. A título de exemplo, posso dizer-lhe que não fora as horas e horas de conversa com uma figura pública que passou pelo mesmo (e que por grande timidez não se expõe), hoje, provavelmente não estaria aqui.
Acredite que ver outras iguais a nós a tentar quebrar barreiras de modo a que o cancro deixe de ser um estigma é das melhores coisas que podemos fazer por quem está doente. Se a isso aliarmos uma chamada de atenção para a prevenção, será ouro sobre azul.»

 

Da nossa leitora Cristina Filipe Nogueira. A propósito deste texto do JPT.

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