O comentário da semana
«Terra ou terra?
A terra tem coisas boas. O meu irmão comia terra. Falta de ferro – opinou o pediatra que também era meu tio.
Eu preferi bosta de vaca, quentinha, acabada de fazer. Saí largado para casa e trouxe uma colher. Sentei-me no chão, bosta entre as pernas abertas e comi à colherada até que a Luzia, cozinheira da casa, me pegou ao colo horrorizada.
Há gostos para tudo. Talvez a comida aquecida fosse da minha preferência e, sobretudo, não arranhava os dentes.
Sabemos que a dieta tem consequências futuras. Tenho 1,80 m e o meu irmão ficou-se pelos 1,65. Prova que merda de vaca é melhor que terra crua.
E mesmo quanto à Terra, sou geólogo porque sempre me fascinaram os minerais e os cristais. E depois as falhas, as dobras e até o cavalgamento que o Canadá resolveu fazer à Península Ibérica. Fascinante!
Arrastou consigo os sedimentos que estavam no fundo do mar. Foram mesmo buldeziriados, dobrados, esticados e acamados numa série com centenas de metros de histórias para contar.
Esta é a Grande História de Portugal. Os sedimentos, assim esmagados e comprimidos transformaram-se em xisto. E nesse xisto, que consegue reter água mesmo em períodos de seca grave, se produziu o milagre do Vinho do Porto.
Quanto ao meu irmão, ficou-se pelo curso de História. Do Vinho do Porto apenas sabe uma coisinhas do Marquês de Pombal e da chegada dos ingleses para o comercializar.
Fica para sempre o civismo e simpatia dos portuenses, mesmo com palavrões à mistura. Talvez tenham sido os ingleses a tornar única esta cidade que não é nem parece mediterrânica. É atlântica. Adoro-a e não sou de lá.»
Do nosso leitor José Carlos Menezes. A propósito deste meu texto.