O comentário da semana
«Em 2017 o crédito pessoal, excluindo habitação, foi de 6.192 milhões de euros. De 2018 ainda não há dados oficiais, mas sabe-se que aumentou. Entre 2007 e 2017, com a crise pelo meio, o total de crédito ao consumo foi de 73.964 milhões. Mais ou menos 21 vezes a capitalização bolsista do BCP. O malparado ronda os 5% para o período, ou seja, 3.698 milhões, o que não é mau, embora seja um BCP inteiro - digamos que os portugueses até são cumpridores.
Os números são de molde a criar problemas se acontecer uma situação adversa. O crédito pessoal, crédito ao consumo, é quase irrecuperável, só com penhora de salários, o que implica defaults no crédito à habitação. Há outros números difíceis de contabilizar, porque para os bancos é preferível refinanciar do que reconhecer o malparado, e esses dados não são fáceis de encontrar. O malparado real é decerto muito superior aos 5%.
Em 2007 a taxa de esforço das famílias era superior a 100%. Não sei como está hoje. Se os bancos estiverem a fazer o que sempre fizeram, a empurrar potenciais defaults para o futuro, e se criar uma conjuntura adversa, então sim, o crédito para tvs, smartphones, nintendos, e afins, só por si é suficiente para despoletar uma crise, pois arrasta o crédito à habitação e o contrair da economia arrasta o crédito às empresas.
A economia normalmente quebra no elo mais fraco, que são os consumidores. Se a culpa é deles ou dos bancos, é um tema a debater. Pessoalmente, vi uma pessoa fazer um crédito para compra de um perfume, e digo que isso mina a minha confiança no juízo dos meus compatriotas.»
Do nosso leitor António. A propósito deste meu postal.