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Delito de Opinião

O candidato.

Luís Menezes Leitão, 19.07.14

 

Resulta claramente desta entrevista que Santana Lopes não pensa noutra coisa a não ser em candidatar-se a Belém, no que parece ter pelo menos o ámen de Passos Coelho, que continua a apostar teimosamente na estratégia TMMRS (Todos menos Marcelo Rebelo De Sousa). Neste enquadramento, o lugar de Provedor da Santa Casa da Misericórdia, que misericordiosamente foi atribuído a Santana, seria apenas um estágio para que ele pudesse adquirir uma imagem de simpatia social, após o que transitaria para Belém. Claro que Passos Coelho preferiria Durão Barroso, mas não estando este disponível, prefere naturalmente apostar em Santana do que deixar Marcelo avançar.

 

A questão é que esta estratégia foi claramente posta em causa pelo avanço de António Guterres. Efectivamente António Guterres secou completamente o espaço à esquerda, tanto assim que António Costa, mal soube desse avanço, mergulhou logo nas absurdas primárias do PS em vez de se guardar para Belém. Neste espaço apenas Marinho Pinto pode conservar algum eleitorado, se conseguir manter o seu discurso populista e contra a classe política, que tantos votos lhe trouxe nas europeias. Já os candidatos da esquerda tradicional cederão naturalmente o lugar a António Guterres.

 

A questão é que António Guterres entra também muito no eleitorado da direita, com o seu catolicismo social e com o facto de ter sempre resistido a entrar nas questões fracturantes, em que o PS se fracturou logo após a sua saída. É por isso que na área da direita só alguém com o perfil de Marcelo Rebelo de Sousa lhe poderia dar alguma luta. Durão Barroso percebeu isso e afastou-se logo da corrida presidencial. Já Santana Lopes, pelo contrário, acha que Guterres "não é imbatível" e que até seria "altamente estimulante" enfrentá-lo.

 

Santana Lopes tem um problema com as eleições presidenciais, semelhante à percepção que ele tem do seu governo, e que ele próprio quis expor no seu livro de 2004, et pour cause chamado Percepções e Realidade, na altura objecto destes dois fabulosos sketches dos Gato Fedorento. Na sua percepção, o seu governo foi óptimo e foi uma grande injustiça ter sido derrubado por Jorge Sampaio. A realidade é que o seu governo foi o pior da história da democracia portuguesa, e se há alguma coisa a censurar a Sampaio — e a Durão Barroso — foi precisamente o terem permitido que ele tomasse posse. Já em relação às presidenciais, ele tem a percepção de que, passados dez anos do seu governo, e com o seu currículo na Santa Casa, tem condições de bater Guterres nas eleições. A realidade é, no entanto, que nem com mais cem anos na Santa Casa Santana conseguiria ultrapassar Guterres na área social, e que tem tantas hipóteses de ser eleito presidente como a torre Eiffel de dançar o samba. Mas, conhecendo a teimosia de Passos Coelho, é muito provável que venha a ser ele o candidato presidencial do PSD. 

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