O candidato.
Da mesma forma que sucedeu na Grécia e na Itália, a actual crise europeia é um terreno propício para a emergência eleitoral de movimentos populistas centrados em figuras mediáticas. Em Portugal isso acaba de ser ensaiado com a entrada de Marinho e Pinto na corrida para as eleições europeias na lista do MPT-Partido da Terra. Estou convencido de que Marinho e Pinto pode ter um grande resultado eleitoral. O seu discurso é altamente heterogéneo, fazendo apelo simultaneamente a valores de esquerda radical, como o combate aos privilégios, e a valores da direita mais conservadora, como no combate à adopção gay. Precisamente por esse motivo teve a inteligência de escolher para se apresentar a votos um partido considerado neutro em termos ideológicos, que apresenta como bandeiras coisas vagas como o humanismo ou a protecção da natureza, de que ninguém discordará. Por outro lado, o seu perfil de homem de convicções, que diz sempre o que pensa, fará a diferença perante candidatos políticos cata-vento habituados a tomar posições em sentido contrário ao que pensam pessoalmente, como se viu na votação recente da proposta de referendo. Se, por exemplo, o candidato do PSD for Paulo Rangel poderemos assistir a debates como este que se vê aqui.
Será um erro o PSD e o CDS não perceberem os riscos que correm. O seu discurso recente tem sido o de que a crise está a ficar para trás e os sacrifícios valeram a pena. Só que quem viu este mês o seu salário ou pensão brutalmente cortados não quer saber para nada se os juros da dívida caem ou não, receando é o que lhe possa acontecer amanhã. Quanto ao PS, não foi capaz de construir nenhuma alternativa, o PCP é o que sempre foi e a esquerda radical entretém-se a multiplicar partidos e movimentos. Estamos no terreno ideal para que um candidato como Marinho e Pinto prospere. Os partidos tradicionais que se cuidem.