De Pedro a 28.10.2018 às 13:00
As definições de democracia e cristão abundam. Jpt, lembra-se de D. Miguel? Um tiranete que granjeou a simpatia da Santa Madre Igreja e do povo, tendo o seu maior propagandista em Agostinho de Macedo. Já para não falar em Pinochet e do apoio que recebeu da Opus Dei.Nada de novo
De jpt a 29.10.2018 às 05:17
Em termos gerais, os mais importantes, estou de acordo consigo, "nada há de novo debaixo do sol", para manter o registo ... E, num plano mais estrito, é óbvio que não há uma única forma de ser ... algo, católico neste caso. E muito menos serei eu, ateu totalmente alheio a essa fé (e quaisquer outras), que poderei reclamar estatuto de avaliador.
Mas, sob outro ponto de vista, que é o do postal, nada concordo consigo. D. Miguel (que ainda vive em algum patusco "monarquismo", sociologicamente retrógado, português) aconteceu há dois séculos, e a ele aludir relativamente à democracia cristã - e à moderna doutrina social da igreja - é um anacronismo. Já relativamente à relação da igreja católica e dos católicos com os regimes ditatoriais de direita, os "fascismos", da segunda metade de XX, em particular na América, é uma comparação pertinente. Mas aí o contexto era diferente, por um lado, menor, aquilo era visto como um epifenómeno da doutrina Monroe, "inconvocável" para contextos europeus (os regimes ibéricos eram sobrevivências e quando terminados não se pedia o regresso a essas situações), mas acima de tudo eram entendidos como factores positivos na Guerra Fria. Ora não há Guerra Fria agora. Há uma inflexão muito geral, talvez estruturante talvez mais episódica, apenas uma ressaca da crise da última década, talvez um novo caminho do nacionalismo. Tal como refere o Luís Naves no seu último postal "A grande viragem" - ainda que Bolsonaro não seja arquetípico dessa linha, pois as suas propostas económicas aparentam ser "mais do mesmo" no sentido liberal (mas outros mais conhecedores poderão ter opinião diversa). Ora o que me parece é que neste contexto geral uma coisa é aceitar, compreender, defender essa inflexão de recuperação do Estado-Nação, o fluxo dos movimentos soberanistas (de facto existente tanto há esquerda como à direita), e isso em nada obsta a uma filiação, mais ou menos fluída, na d-c, mesmo que esta sob "aggiornamento". Outra coisa é o óbvio "frisson", muito revanchista, com este peculiar Bolsonaro. Tanto devido às suas abrasivas declarações como, até, pelo facto de que as características do seu programa não se prendem com os outros movimentos aparentemente similares - a oposição portuguesa ao capitão, e eu referi-o, prendeu-se muito a questões de facto espúrias (o género, a homossexualidade, o racismo), pois não são componentes programáticas mas sim retóricas, sobre uma aversão às estratégias comunitaristas do neomarxismo. E com isso se obscureceu o seu verdadeiro cerne - que não é antiliberal e nacionalista no sentido dos outros (que encerramento de fronteiras propõe? nada, não é esse o rumo - veja-se as declarações sobre a Amazónia, de abertura a articulação com interesses intenracionais, em particular americanos - não invento satãs, é ele que o diz).
Em suma, Bolsonaro não é como os outros, actuais inflexões à direita. E não emerge num contexto bipolarizado como Videla ou os generais brasileiros ou os Somozas e quejandos, nem é um peão (ou cavalo ou bispo) na luta contra um comunismo internacional pujante. Como tal a simpatia da direita europeia, travestida de "neutralidade", é denotativa de uma perspectiva sobre o real e não apenas uma continuidade.
De Pedro a 29.10.2018 às 08:09
Tem razão. Mas lembro-me de outro exemplo. A ligação de partidos democratas cristãos italianos à Máfia e a convivência do Vaticano, em nome da luta contra o comunismo. Século XX e XXI. Quem acabou com aquela cumplicidade foi o actual Papa.
De jpt a 29.10.2018 às 18:20
Complicado, mas sem os conteúdos ideológicos explícitos que isto hoje tem.
De Vento a 28.10.2018 às 14:57
Começo pelo fim.
Ao ir buscar o sermão da montanha fê-lo por atrevimento, pois reconhece a ignorância perante a realidade bíblica.
Se alguma comparação podemos estabelecer perante tal realidade, esta deverá ser feita pela afirmação "bem-aventurados os pobres de espírito...", do versículo 3 do capítulo referido, com uma das dietas hoje em dia bastante preconizadas.
Traduzo:
O reino não se alcança por "obesos", isto é, os que se enchem de si mesmo e de teorias impeditivas à acção do Espírito. Os pobres de espírito são precisamente aqueles que se esvaziam das gorduras que os podem esclerosar para criar espaço à essa acção.
O vazio de "si mesmo" permite, entre outros resultados, entrar na realidade do Outro. No fundo, através deste esvaziamento, o olhar transforma-se em asas que voam de um "eu" para outro "eu".
Aqui chegados, mais facilmente compreenderemos a Universalidade da mensagem de Cristo e a proposta que é feita através desta mesma característica. Esta resume-se ao facto de cada um se transformar em servidor diante do outro. Logo, a inclusão e não a exclusão é a proposta. É aqui que se compreenderá a seguinte instrução em Mateus 10, 7-13:
"Vão e anunciem isto: “O Reino do Céu está perto.” Curem os leprosos e outros doentes, ressuscitem os mortos e expulsem os demónios. Vocês receberam sem pagar; portanto, dêem sem cobrar. Não levem guardados no cinto nem ouro, nem prata, nem moedas de cobre. Nesta viagem não levem sacola, nem uma túnica a mais, nem sandálias, nem bengala para se apoiar, pois o trabalhador tem o direito de receber o que precisa para viver.
– Quando entrarem numa cidade ou povoado, procurem alguém que queira recebê-los e fiquem hospedados na casa dessa pessoa até irem embora daquele lugar. Quando entrarem numa casa, digam: “Que a paz esteja nesta casa!” Se as pessoas daquela casa receberem vocês bem, que a saudação de paz fique com elas. Mas, se não os receberem bem, retirem a saudação."
Mais ainda, é necessário compreender a realidade cultural para conhecer o que se passa no Brasil e o discurso empolgante que se faz. O Brasil não é a Europa, que hoje não se sabe o que é, e não se pode levar à letra aquilo que é expresso no calor das campanhas. Como já disse, Bolsonaro é o homem certo no momento certo, para gerar equilíbrios.
O ideal é sempre algo que continua a ser idealizado; e ao pretender-se ver externamente o padrão por que cada um se rege é procurar impor uma realidade falível.
Concluindo, o presidente Bolsonaro é uma pedra em bruto que acabará por ser lapidada ao longo de sua governação. O Brasil possui os instrumentos adequados para que assim aconteça.
De Pedro a 28.10.2018 às 18:24
Nunca Jesus Cristo pronunciou o sermão da montanha. Os estudiosos acreditam que foi acrescentado muito depois da primeira versão da bíblia ter sido escrita (pela análise semântica e linguística ).Aliás a Bíblia foi sendo revista conforme a situação política vivida pelos cristãos, daí os seus ensinamentos paradoxais. Umas vezes Jesus era inclemente - situação política dos cristãos favorável - outras benévolo - situação política desfavorável.
O inventor do cristianismo foi Paulo, e não Jesus Cristo
De Vento a 28.10.2018 às 19:28
Recomendo-lhe a leitura das cartas de Paulo, nomeadamente a carta aos efésios.
Aquilo que você designa por não pronunciamento do sermão da montanha faz-me lembrar as discussões estéreis e inúteis que alguns pseudo-teólogos tecem sobre se a multiplicação dos pães se refere a uma só ou a duas ocasiões. E foram duas, pois há sinais evidentíssimos que os ditos cientistas ainda não descobriram.
Desde já convido um desses a chegar-se à frente para debater a temática.
Cristo não inventou nada e Paulo também não. A designação de cristãos ocorre em Antioquia. E o cristianismo é marcado fundamentalmente pelo Novo Testamento cuja compilação toma forma a partir da denominada Bíblia dos setenta (Septuaginta) em Alexandria - ainda que se discuta sobre a existência de uma anterior tradução até agora não identificada - e que marca o início da ruptura com o judaísmo tradicional.
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 05:07
Cristo não inventou nada, porque Cristo, sendo uma construção teológica sem existência terrena, nada poderia inventar. Já o homem que nasceu de uma mulher e que ficou conhecido por Jesus de Nazaré, como qualquer hodierno teólogo minimamente sério convirá, jamais foi o criador do Cristianismo, porquanto sendo um judeu devoto nunca lhe passaria pela cabeça desligar o seu movimento reformador (e, em certos casos, radical) do tronco mosaico onde ele certamente o incluía. Jesus de Nazaré nasceu, viveu e morreu judeu e unicamente judeu. O seu branqueamento como criador de uma seita antijudaica foi-lhe muitíssimo posterior e obedeceu a objectivos em que tiveram tanto peso o oportunismo proselitista de não poucos quanto o material proveito de outros tantos para quem o programa era exactamente o contrário do prescrito pelo pobre camponês crucificado - não o esqueçamos - pelo mesmíssimo Império que eles então tentavam tomar de assalto.
Quanto a Saulo de Tarso, parece-me que essa sua terminante recusa de ver nele o criador e enformador do proto-cristianismo embate num sério escolho: as cartas de Paulo - não tendo em conta, claro está, as amplamente consideradas apócrifas - são anteriores a todos os Evangelhos sinópticos. Ou seja, na formação do cânone bíblico do Novo Testamento foi a teologia do Paulo das Cartas que influenciou, informou e limitou a escolha daquilo que era a Palavra de Deus lícita (porque ortodoxa) e não lícita (porque heterodoxa).
As discussões estéreis e inúteis de alguns pseudo-teólogos foi aquilo que fez avançar, desde os séculos XVI/XVII e principalmente dentro dos movimentos protestantes - para desgosto daqueles que tratavam com a força purificadora do fogo toda e qualquer discussão (fosse ela estéril ou fértil, inútil ou útil de todo) - a exegese bíblica e os estudos sobre religião. Ser tal facto ainda hoje um motivo de aceso debate é que me causa a maior das estranhezas.
De Vento a 29.10.2018 às 11:30
Rui, a sua versão interpretativa tem de ser factual. Aguardo que fundamente suas considerações para as rebater neste nível.
Até que as apresente, considero-os legitimas divagações ao som e ao tom de quem busca justificar-se.
Não é estranheza que o debate se mantenha hoje: "Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão".
De Pedro a 29.10.2018 às 16:10
https://www.wook.pt/livro/a-evolucao-de-deus-robert-wright/10984374
O que fica com o passar do tempo é Newton.
De Vento a 29.10.2018 às 20:42
Já é a segunda vez que você, usando outro nome, deixou a sugestão desse livro, que comprei e li. Pleno de equívocos na matéria a que se propõe, mas certo também no que respeita alguns dados históricos. Não acrescenta nada ao debate.
De Pedro a 29.10.2018 às 22:39
De Pedro a 29.10.2018 às 16:23
Vento, apresente-me dados factuais, históricos, sobre a veracidade da existência de Cristo.
De Vento a 29.10.2018 às 20:45
Apresento-lhe factos da existência de 2 personagens que existiram, a saber: Moisés e Cristo.
Moisés porque influenciou, pelas tábuas da lei, as constituições do mundo; e Cristo, pela divisão do tempo em aC e dC.
Quer mais provas?
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 20:32
Ó meu caro Vento, não quererá o senhor que eu puxe de pergaminhos teológicos que eu, obviamente não possuo, ou quer?
O prezado Vento há-de conceder-me a liberdade de, não sendo eu crente, ler e pensar as coisas da religião. Certamente não julgará o meu estimado interlocutor ser necessária autorização papal para tal eu fazer, pois não? Ou incorrerei eu, tal fazendo, em pecado gravíssimo?
Para não tornarmos fastidiosa esta nossa troca de impressões, meu estimado Vento, remeto-o para as obras de Bart D. Ehrman, Geza Vermes, John Dominic Crossan, Reza Aslan, entre outros. Estou certo que, pelo menos na vasta obra dos três primeiros, encontrará farta informação que consubstanciará as minhas afirmações.
De Vento a 29.10.2018 às 21:44
Ó meu caro Rui, eu não quero nada disso. Tanto que não quero que considero legítimas suas divagações.
Eu não lhe pedi credenciais literárias acerca do tema. Pedi-lhe factos. Aguardo esses factos para mano a mano mantermos esta troca epistolar ainda mais agradável. As obras que me recomenda são obras, mas os autores não estão aqui. Estamos os dois.
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 22:49
Pois estamos, caro Vento. Estamos nós e as circunstâncias temporais e espaciais que nos rodeiam e nos limitam.
Quer o caro Vento provas do quê? De Jesus de Nazaré ter nascido judeu? É uma evidência tão evidente que lhe deram (erroneamente) como cidade natal a Belém do nascimento do Messias judaico.
Quer provas de Jesus ter vivido toda a sua vida judeu? Pois tanto assim foi que frequentava a sinagoga e o Templo e comentava a Torá.
Que morreu como Judeu? Assim não sendo, como explica o caro Vento o INRI que encimava a cruz? E como explicar o seu ritual fúnebre? Acaso se dava a gentios um enterramento tipicamente judeu do Século I?
Quanto à maior antiguidade das Epístolas paulinas relativamente aos Evangelhos sinópticos, devo dizer que anda o meu caro Vento desfasado umas quantas décadas na fixação da antiguidade dos textos neotestamentais, pois a versão hoje mais comummente aceite pelos académicos é a seguinte: Epístolas de Paulo; Actos dos Apóstolos; Evangelho de Marcos; Evangelho de Mateus; Evangelho de Lucas; Evangelho de João. Mais provas provadas, meu caro Vento, não lhas posso eu dar, porquanto ando um pouco olvidado e esqueci-me do estojo com o carbono 14 no trabalho.
Olhe, meu prezado Vento, parece-me que o senhor está a cair num equívoco: pretende que alguém que acredita em factos históricos filtrados pela Razão proceda à sua revisão desses factos através de um coração de crente. Isso nunca acontecerá. Já eu não tenho ilusão nenhuma de que o estimado Vento, contra os ventos e as marés dos mais profundos e honestos estudos dos mais sábios e rigorosos académicos, continuará a tentar meter o Rossio dos estudos historiográficos sobre religião na Rua da Betesga das histórias que sustentam a crença pessoal. Não me interprete mal: eu respeito a sua Fé, mas o caro Vento há-de convir que a Fé, sendo sua ou de outro ser humano qualquer, é fraca historiadora e raramente se atrapalha com achados que a contradigam.
De Vento a 30.10.2018 às 11:42
Começo pelo final. Meu caro Rui, compreendo os dribles que pretende introduzir para levar o tema a duas dimensões: a da fé e a da razão.
Porém resvala nas intenções, porque a fé ilumina a razão. A questão da fé ser cega é construção dos "cientistas" para demonstrar que esta é fruto de alienação e fanatismo; e que eles mesmos, doutos e conhecedores profundos dos méritos do carbono 14 e suas virtudes, são os que se perfilam nesta ascensão ao deísmo.
Devo dizer-lhe que o instinto religioso do Homem não é histórico, é o desenvolvimento deste instinto que constitui um excelente registo histórico. Portanto, o meu caro, sem se dar conta, pretende criar um elitismo separando a fé da razão. E isto, permita-me afirmar, é bacoco, direi mesmo medievo e até mesmo que o carbono 14 - falível comprovadamente ao longo de várias experiências - não consegue medir, tampouco a denominada área da neuroteologia. Porque esta só pode constatar e ainda não explicar.
Mas o meu caro pretende explicar através da enunciação dos doutos registos históricos que não é capaz de materializar o que aí consta.
O Rui tem de me demonstrar o que os académicos preconizam. Não é enunciando etapas e títulos que demonstra ser capaz de factualizar a temática. Por favor, não encha de palavras a caixa de comentários mas de factos, foi isto que pedi.
Eu não defini em meus comentários a temporalidade dos textos, é o Rui que pretende intimidar o interlocutor tentando fazer com que um conjunto de palavras agregadas possa espantar a presa.
A jurisprudência romana obrigava a que os condenados fossem alvo dos dizeres da condenação. Portanto, Jesus de Nazaré Rei dos Judeus, foi uma das causas da condenação de Cristo, porque o único deus permitido era o Imperador.
Mas esta decisão tem outras vertentes que o meu caro não aborda.
Por outro lado, o meu caro pretende demonstrar que o facto de Jesus ter vivido num espaço e realidade cultural identificada retira toda a substância de sua Boa Nova, isto é, da novidade testamentária. Só revela que o meu caro academicamente labora num erro que é fruto de mera especulação; e, assim, confunde o movimento especulativo da razão, que tanto lhe apraz reivindicar, com factos.
É de facto verdadeiro que Jesus lia a Tora e outros manuscritos, para poder dizer, entre outras, que a afirmação do profeta Isaías se referia a ele. Este mesmo messianismo que os judeus, incluindo inicialmente os seus apóstolos, julgavam acontecer através da espada, e por via do sangue familiar, e não da forma como aconteceu.
Daqui se depreende que o Reino do Messias, não sendo deste mundo, é para este mundo através de preceitos contrários aos da tradição.
Meu caro, não me repito naquilo que afirmei sobre o que se pretende pré-anunciar com a narrativa do nascimento de Jesus. Como académico que pretende demonstrar ser, apelo ao uso da sua razão para compreender o sentido.
Continuo a aguardar a sua prezada contestação e os factos que pedi.
De Rui Henrique Levira a 30.10.2018 às 13:58
Olhe, meu caro Vento, a Fé ilumina a Razão no seu mundo, certo? Quanto ao resto do Mundo, a Razão tem passado muito bem sem a Fé, e recomenda-se. Aliás, a Razão recomenda-se tanto mais quanto mais da Fé ela se afastar, mas tal coisa é difícil de explicar a quem ainda anda indisposto com o tragar a contra-gosto da racionalidade iluminista e da laicidade do Estado introduzida pela Revolução Francesa.
Quanto a factos, estará o caro Vento a brincar comigo? Onde, no seu anterior extenso arrazoado sem nexo, aponta o senhor um único facto que contradiga aquilo que eu dei como prova evidente (prova evidente neotestamentária, note-se) da judaicidade do Rabi de Nazaré? Ou aquilo que verdadeiramente lhe causa urticária é a afirmação de que Jesus era judeu? Não gosta? Tem bom remédio o meu caro amigo: chame-lhe nabateu ou parto ou outra coisa qualquer, pois vai dar ao mesmo beco sem saída da irracional - mas muitíssimo crente - negação da evidência.
Quanto ao resto, creio bem serem mais que horas de o prezado Vento ir dar um abençoado banho ao cão do pároco aí da sua freguesia. Não se prenda, estimado Vento, não se prenda...
De Vento a 30.10.2018 às 22:04
Novamente pelo final. O meu caro recomenda hábitos que deve conhecer bem. Fico com a sensação que já passou por isso, o de dar banho ao cão do pároco. O seu discurso dá ares de uma revolta incontida, não obstante a dissidência.
Meu caro Rui, não me compete ainda apresentar factos. Até agora aguardei e fui argumentado alguns pontos de suas divagações racionalistas, especulativamente racionalistas. Eu tenho vindo a acompanhá-lo somente para que não se esqueça do que pedi. Mas prometo que não insisto mais. Já cheguei aonde pretendia. O meu caro gosta de retórica num tema que pretende irracional, por ignorar. Vai fazendo alusão a uns autores e exegetas para me deixar na mesma.
A questão da judaicidade que refere está aí como um fait-diver, em tom de quem tem de dizer algo. Quero que contrarie a novidade testamentária. As restantes interrogações não passam de exercícios de imaginação para alimentar um não sei quê.
Eu dei-me conta que o caro Rui está bem preparado para os bitaites. Até chama a revolução francesa à colação, pois não vá ficar sem apoios.
De Rui Henrique Levira a 31.10.2018 às 01:08
Banhito ao canito do Senhor Padre, está bem, prezado Vento?
De Vento a 31.10.2018 às 14:58
:-)
De Rui Henrique Levira a 28.10.2018 às 21:24
Paulo, esse grande espertalhão... O bom do nativo de Tarso lá concluiu que a coisa, restrita ao seio do Judaísmo que a excluía, não dava, e, vai daí, lançou-se, muito "empreendedoristicamente" como hoje sói dizer-se, à conquista de novos mercados espirituais.
Uma incomensurável ajuda ao êxito da empresa foi, sem dúvida, a destruição do Templo, no ano 70 da nossa Era, que definitivamente deixou o Judaísmo cristão-palestiniano sem sede nem eixo. Na luta pelo poleiro espiritual definitivamente levou a melhor Saulo, o renascido do Caminho de Damasco, sobre Cefas, o pescador das margens do Mar da Galileia.
De Vento a 29.10.2018 às 11:35
Rui, tem de ler as cartas de Paulo depois da "queda do cavalo" para comprovar o percurso, as duas viagens feitas a Jerusalém, e a razão que o levou ao encontro daqueles que ele designava como "os pilares da igreja".
Paulo transformou-se no que é porque teve a coragem de se entregar nas mãos dos romanos para que decidissem sobre sua vida.
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 20:14
Sim, meu caro Vento, os mesmos "pilares da igreja" (leia-se Pedro/Cefas e a própria família de Jesus, na pessoa de Tiago) com quem ele manteve insanáveis polémicas no como, onde e a quem devia levar a singular leitura da Lei de Moisés que o Rabi de Nazaré espalhara na sua passagem pela Terra.
E, meu prezado Vento, se Paulo se entregou nas mãos dos romanos, entregou-se ele às mãos dos seus, porquanto Saulo de Tarso era um cidadão romano. Essa cidadania, bem como a sua educação greco-romana, explicam, por si só, a clara opção de Paulo de alargar aos gentios aquilo que era mais uma (entre tantas) corrente do Judaísmo.
De Vento a 29.10.2018 às 22:04
Começo pelo fim. Não explica nada disso. O que explica a sua acção são as cartas conhecidas. Recomendo-lhe novamente a leitura.
A transfiguração diz tudo, e desmonta esse seu argumento. A figura central na transfiguração é Cristo. Se conhecesse o que para a tradição judaica significa os lugares, bem como o significado de cabeça e pés, não afirmaria uma aberração como essa de que a "Lei de Moisés que o Rabi de Nazaré espalhara na sua passagem pela Terra". ´É uma aberração na medida em que a morte de Cristo também é fruto dessa lei. E o facto de ter sido crucificado fora de muros de Jerusalém indica a sua contradição. Recomendo a leitura de Eclesiástico para compreender o sentido dos condenados o serem fora de muros da cidade.
Mais ainda, se o Rui entendesse o significado dos lugares como Belém e Nazaré mais facilmente compreenderia o sentido do texto neotestamentário.
A título de exemplo, para que explore: não é por acaso que em torno do nascimento de Jesus em Belém surgem os pastores. Porquê? Porque era em Belém que se criavam os cordeiros que se sacrificavam no templo de Jerusalém. E a partir daqui compreenderá não só o significado do termo "Cordeiro de Deus" como também o que se pretende pré-anunciar nesta narrativa ao nascimento.
Finalmente, as polémicas ficaram sanadas exactamente no que ficou designado pelo concílio de Jerusalém. E daí? Onde pretende chegar? Polémicas sempre houve e existirão. A crucifixão é fruto de uma grande polémica.
Compreendo a sua visão naïf em torno de algo que leva muitos anos a estudar. Direi mesmo a vida toda. Todavia não é a literatura e o conhecimento profundo destes temas que nos torna cidadãos do Reino. O que nos atribui essa cidadania é o Amor que colocamos no que fazemos, e também nas intenções do que dizemos.
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 23:19
Sempre achei digno de maravilha, meu caro Vento, a estonteante ironia que é tentar explicar de forma racional aquilo que com a racionalidade nada tem a ver. Aliás, podemos dizer que toda a Teologia católica é um portentoso monumento a essa paradoxal ironia.
Sabe que mais, meu estimado Vento? Tem o senhor toda a razão: a minha visão é ingénua. Tão ingénua, mas tão ingénua, que acredito em coisas tão extraordinariamente ingénuas como as virgens não darem à luz, os mortos jamais voltarem à vida, e Jesus ter sido... um observante judeu do século I da nossa Era. Para me elevar deste estado de ingenuidade (ou será de ignorância?), ainda não tive eu a graça de ter visto essa luz que a si o ilumina, meu caro Vento, para que consiga, com propriedade, escrever um comentário altamente lógico e racional (e factualíssimo, há que acrescentar) como aquele que este precede.
E, meu caro Vento, se a vida toda eu precisasse para aprender as banalidades sem nexo que o meu caro senhor anteriormente escreveu, ao fim dela chegaria eu a perguntar-me de que me valera tal vida.
Passe bem, estimado Vento.
De Vento a 30.10.2018 às 10:53
Passo, sim, muito bem. O seu comentário leva a concluir que o meu caro não passa nada bem com os iluminados.
Como quem não quer a coisa, lá vai mostrando que o pézinho de dança que pretende dar é para chegar ao catolicismo e não à teologia, ainda que com ingenuidade afirme ser "teologia católica" o que inspira a tradição cristã nas mais diversas vertentes do cristianismo.
Portanto, o seu discurso redondo só cria vertigens em quem entra na roda. E é natural que a lógica e a racionalidade, pergaminho típico dos que pretendem elevar-se aos altares da luz, acabe sempre prisioneira do mesmo círculo.
Retribuo o generoso voto.
De Sarin a 28.10.2018 às 22:30
Não deixas pedra sobre pedra... :)
De jpt a 30.10.2018 às 07:21
um verdadeiro Átila, flagelo de Deus
De Sarin a 30.10.2018 às 09:05
Mas nestas discussões é quase ser Atlas, rolando pedra montanha acima...
De jpt a 30.10.2018 às 20:38
Estou a seguir a conversa teológica com muito interesse, o meu silêncio de autor do postal nada mais significa do que consciência do meu desconhecimento da temática
De Sarin a 30.10.2018 às 21:56
Já me excomungaram tanta vez que se me acabaram as vidas para tais discussões. Ler o Pedro é sempre bom; felizmente ainda lhe sobram uma ou duas e ele não é incréu, o que à partida lhe dá uma vida de bónus :)
De jpt a 29.10.2018 às 05:37
Eu não propus que lapidassem o Bolsonaro ...
O "vazio de si mesmo", para o citar, é um gajo que em 2018 diz que vai acabar com "reservas indígenas", entenda-se, abrir ainda mais a Amazónia à destruição.
Diante disso "bem-aventurados os hipócritas ..." é mesmo possível de ser uma versão bíblica, ainda que você a diga "atrevida". Atrevimento é virem-me cantar loas, em melodia gregoriana que seja, ao energúmeno, vero Anti-Cristo
De Vento a 29.10.2018 às 11:23
Admira-me que numas ocasiões se refira "a César o que é de César e a Deus o que é Deus" e se pretenda a construção virtual de um César quando um César não dá jeito.
Quem sabe o que é o mal menor? E que loas são essas ao energúmeno? São as suas ou as que não lhe são favoráveis?
Daqui por um ano espero ler as suas opiniões.
De jpt a 30.10.2018 às 07:21
Loas minhas ao energúmeno? Francamente, onde as pode encontrar?
Se, daqui a um ano, Bolsonaro tiver surpreendido esta velha carcaça e feito um trabalho positivo eu não farei um postal. Filmar-me-ei a comer um chapéu e botarei nas redes sociais.
De Vento a 30.10.2018 às 12:06
A filmagem a comer o chapéu será uma boa posta.
De jpt a 30.10.2018 às 13:58
Julgo que será um "destaque" da SAPO.
De Rui Henrique Levira a 28.10.2018 às 15:14
Quanto ao resto, não deixa de ser enternecedor ouvir e ver aqueles que aplaudiram de pé o espectáculo obsceno da destituição de Dilma Rousseff - por um "crime" que, em Portugal, teria metido nos calabouços todo e qualquer elenco governativo pós 25 de Abril - chorarem agora lágrimas de crocodilo face à onda do "populismo" (na era da pós-verdade, as palavras servem para encobrir aquilo que lá está, e o que lá está tem um nome que designa exactamente o seu referente: esse referente chama-se Fascismo) de Bolsonaro. Mais uma vez nos é dado assistir - ao vivo e a cores - à ópera bufa de lusos políticos, comentadores e analistas de toda a sorte a praticarem aquilo que melhor sabem fazer: exibir em todo o seu esplendor a inimputabilidade que inexoravelmente nasce da sua inenarrável incompetência e ignorância. Já vimos isso anteriormente, e os nomes Kosovo, Iraque e Líbia, vêm-me, vá-se lá saber porquê, à lembrança...
Aquilo que esteve no subterrâneo golpe palaciano que decapitou Dilma Rousseff é exactamente aquilo está no que leva Bolsonaro aos ombros: Bullets/Bible/Cattle.
É caso para dizermos "Perdoa-lhes, Pai, porque eles - lá e cá - sabem exactamente o que fazem".
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 04:10
"... é exactamente aquilo que está..."
De jpt a 29.10.2018 às 05:39
Os americanos não é? O Boaventura também já disse isso. Mas juntou-lhe o colonialismo ...
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 11:43
Os americanos? Não... Aliás, foram os marcianos, eles sim, mais a sua SNA, que puseram o telefone de Dilma Rousseff e de meio governo brasileiro sob escuta e entregaram o resultado da sua "investigação" a um juiz muitíssimo imparcial. Quando ouço gente a invectivar o "populismo" de Bolsonaro, só me pergunto que espécie de "populismo" leva um juiz (um órgão de soberania) de um país independente e soberano a investigar os seus cidadãos com base nas escutas ilegais feitas por uma agência de espionagem estrangeira à chefe de Estado da sua própria nação.
Para nós portugueses a coisa ainda se torna mais absurda quando notamos que um ex vice-presidente da nossa Assembleia da República se recusa a ir ao Brasil responder por uma grave acusação de alegado homicídio argumentando que a justiça brasileira não é justa nem imparcial. Pelo vistos, aquilo que não serve a Duarte Lima é óptimo para Lula da Silva e para Dilma Rousseff.
Quanto a colonialismo, creio que o termo é um pouco desadequado quando se fala das relações dos EUA com qualquer nação da América Latina, pois melhor será tratarmos a coisa - pelo menos desde o estabelecimento da Doutrina Monroe - por neocolonialismo.
Finalizando, há que fazer um aviso à navegação: eu não sou nada apreciador das ideias do Dr. Boaventura.
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 21:28
Não "SNA", mas sim "NSA".
De jpt a 30.10.2018 às 07:18
Sob o tão democrata Obama não andaram a escutar a então nazi Merkel? Não se ouviram grandes críticas locais.
A explicação dos males do mundo pela causa americana tem todos os conteúdos da explicação feitícica.
"Colonialismo" para explicar modernidade e contemporaneidade não (me) serve. Nem "colonialidade". Mas enfim, são visões do mundo muito consagradas nos tempos correntes.
De Rui Henrique Levira a 30.10.2018 às 13:11
Eu referi-me a neocolonialismo. E quanto à Merkel (a quem eu jamais chamei, chamo ou chamarei nazi) é mesmo esse o problema de todos os povos neocolonizados: a páginas tantas, assumem a "superioridade"dos seus amos como algo inquestionável e piam baixinho, não vá o patrão zangar-se. Ser esse patrão Obama ou Trump ou o Capitão América vai dar ao mesmo. Se hoje a Europa é uma vasta colónia de bases militares, não me parece que nessas bases militares ondeie a bandeira do Kirguistão.
Quanto à explicação dos males do mundo pela causa americana, é, nesse particular, o caro JPT mais papista que o Papa, pois o que não falta é vasta obra académica "made in USA" que esmiuçadamente aponta o mar de bem-aventuranças que a hegemonia americana trouxe ao Mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Mas não nos apoquentemos, prezado JPT, pois essa hegemonia está a ir, rapidamente e com a prestimosa ajuda do complexo militar/industrial/financeiro/mediático dos próprios EUA (com inimigos destes, quem precisa de amigos?), pelo cano dos resíduos (chamemos-lhe assim) da História. Recoste-se, estimado JPT, e aprecie o espectáculo.
De jpt a 30.10.2018 às 14:03
O sarcasmo não é sempre bom amigo. Só funciona bem quando não assenta no adulterar prévio do que o outro, a quem se atira a pedra, botou; Eu referi a ideia, que BSS escreveu por extenso e que muitos agitam, de que a culpa do que se passa no Brasil é dos EUA, seus malévolos interesses e práticas. A tese vale o que vale, para os folóeres do analista e para os antiamericanos do feitiço. O resto é apenas vontade sua de atirar umas bocas Ok, estaão aí escarrachadas ...
De Rui Henrique Levira a 30.10.2018 às 15:10
Vai perdoar-me a sinceridade, caro JPT, mas a minha vontade de de "atirar umas bocas" anda pela mesma intensidade volitiva por si demonstrada de fazer o mesmo.
E engana-se o senhor ao crismar de "antiamericano" aquilo que eu escrevo, pois tenho tanto contra o povo americano contra contra outro povo qualquer tenho, ou seja, nada. O que eu detesto é uma classe governativa que, desde muito cedo, levou os EUA a construírem um império sem alguma vez se dizerem imperialistas.
Quanto ao sarcasmo, fará o senhor a fineza de determinar o como e o quê há-de escrever e deixar-me a liberdade de o mesmo fazer, certo? Se assim não for, também algum muito pouco urbano reparo estilístico terei eu de fazer ao colorido "atirar umas bocas" que por aqui ficam "escarrachadas", que, convenhamos, está uns furos abaixo daquilo que se lhe exige a nível intelectual, porquanto "bocas" mandam os trolhas do cimo dos andaimes.
De jpt a 30.10.2018 às 20:41
"bocas" monopólio dos trolhas? enganou-se no interlocutor, cagança elitista comigo não pega. "bocas" abaixo de trolha, bem mais rasteiro do que o sarcasmo que lhe estava, calmamente, a atribuir é a desonestidade de amarfanhar o que o outro escreve e gozar sobre isso - exactamente o que acima faz. Fica a conversar sozinho, com os burguesotes adamados. Eu vou com os trolhas, foda-se
De Rui Henrique Levira a 30.10.2018 às 21:39
É lamentável que aqui chegue, até porque creio que jamais lhe faltei ao respeito. Contudo, devo afirmar que Vossa Excelência acabou por revelar-se - com o seu último elevadíssimo comentário - o realíssimo monte daquela matéria que atrai as moscas que realmente é.
"Caganças" (?!!!) não sei se são consigo, mas no que a cagadas se refere basta Vossa Excelência olhar-se ao espelho para ver que têm tudo a ver consigo.
E não se esqueça, sobretudo, de tomar a medicação, porquanto essa sua hiper-sensibilidade delirante só a psiquiatria a pode explicar.
Por fim, a esse seu "foda-se" (polida palavra suas que me vejo obrigado a reproduzir) substitua Vossa Excelência a vogal temática por um "e", ao reflexo "se", substitua-o por um "me", e enfie-o naquela sua parte do corpo onde o sol não brilha.
De Rui Henrique Levira a 31.10.2018 às 01:24
Veja se, pela alminha do grama de honestidade intelectual que lhe resta (à sua educação nem vale a pena apelar), publica o meu comentário à sua anterior javardice. Agradecido.
De jpt a 31.10.2018 às 10:25
Como já escrevi, e recentemente, aqui não me é costume barrar comentários. E quando o faço assinalo-o - ou porque são só insultuosos ou porque são insultos ou alusões malévolas a outrem. Neste caso você está apenas demasiadamente apressado.
De Rui Henrique Levira a 31.10.2018 às 12:43
E Vossa Excelência é, pura e simplesmente, demasiado ordinário. Se insultos e alusões malévolas a outrem o fazem barrar comentários, junte a essas duas razões a sua luzidia javardice e seja consequente barrando aquele comentário que me dirigiu.
Quanto a esse "você" que o senhor me dirige, "você" é estrebaria, sete fardos por dia.
Vossa Excelência é, nitidamente, um crasso erro de "casting" nas aquisições do "Delito".
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 00:35
Consumatum est: abriu oficialmente a época do tiro ao pobre em terras de Vera Cruz. Quando o sangue começar a correr, as inevitáveis cândidas almas do costume assobiarão para o lado e farão de conta que a coisa nada teve a ver com elas. Tal como com elas nada tem a ver o grande avanço civilizacional que ocorreu na Líbia após a grande cruzada democratizadora da NATO (da qual fazemos parte): compra-se, hoje, em Trípoli, robustos escravos negros por verbas muito em conta.
De jpt a 29.10.2018 às 05:43
Isso não é verdade mesmo, e é vontade de a ela fugir: foram também os pobres que bolsonaram. E ser pobre não é ser estúpido (ou vítima de whatsapp)
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 12:10
Ser pobre não é ser estúpido, mas ser pobre no Brasil é quase sinónimo de não ter instrução. Se o senhor acha que analfabetismo e iliteracia são condições "sine qua non" para se fazerem escolhas avisadas, então comecemos o trabalho mesmo aqui por casa: há que dar ao camartelo todo e qualquer estabelecimento de ensino deste país, para que verdadeiramente possamos dar o decisivo passo em direcção à plena e verdadeira democracia.
Devo confessar que uma dúvida me assalta: quantas daquelas esclarecidas almas (muito longe de serem analfabetas e ainda mais longe da pobreza abjecta de não pouca da população brasileira) que compunham o "Volk" alemão em 1933 e que votaram nos Nazis (e, por favor, não me venham agora dizer que comparo Bolsonaro a Hitler, pois eu bem sei que tais equilibradas analogias são hoje reservadas, no Ocidente onde vivemos, a... Vladimir Vladimirovich Putin) anteciparam o que eles lhes fariam no futuro?
Por fim, devo sublinhar que mantenho aquilo que anteriormente disse: abriu oficialmente a época do tiro ao pobre em terras de Vera Cruz.
De Pedro a 29.10.2018 às 17:20
O anti-semitismo era mais antigo que o nazismo. E a Alemanha foi dos últimos países europeus a adoptar um sistema politico parlamentar moderno...o tipos do norte da Prússia tem Esparta como modelo.
De Rui Henrique Levira a 29.10.2018 às 20:49
Pois, meu prezado Pedro, tem o senhor toda a razão ao afirmar a anterioridade do anti-semitismo face ao mais recente racismo anti-semita nazi. Só que, aos dois anti-semitismo anteriores ( a saber: o clássico, nascido da rejeição das prescrições dietéticas e da endogamia de cariz religioso mosaicas por parte das outras civilizações mediterrânicas para as quais a comensalidade, a hospitalidade e a troca de esposas era sagrada; o cristão, nascido da acusação de serem os Judeus deicidas ) acrescentaram os nazis uma componente "científica" baseada nas teses eugenistas ( que, diga-se, não foram somente acarinhadas na Alemanha nazi) e na deturpação da teoria de Darwin (deturpação essa que, diga-se em abono da verdade, não começou com eles).
Quanto ao resto, caro Pedro, concordo largamente consigo.
De jpt a 30.10.2018 às 07:13
outros, sem tantas teorias, também lhes dava para acabarem com eles ...
De Rui Henrique Levira a 30.10.2018 às 12:23
Que "outros", prezado JPT?
De jpt a 30.10.2018 às 07:12
é a sua opinião sobre a caça ao pobre. Apenas me cumpre esperar que seja errada.
Não percebo essa conclusão que retira do que eu disse, isso do "sine qua non" - onde botei eu que ser analfabeto ou iletrado é condição para escolha avisada? Continuo na minha - quando os pobres, iletrados ou analfabetos que sejam, votam no que o "culto" defende estão esclarecidos, quando votam ao invés são alienados porque ignorantes. Isso é um discurso incompetente, desculpe a franqueza. Não conheço o Brasil mas conheço bem Moçambique, onde a iliteracia é muito maior do que no Brasil. E onde as pessoas são bastante conscientes das suas opções de voto, com grande diversidade das razões e na densidade das reflexões, como é óbvio. Portanto esse tipo de discurso, ilegitimador (pois irracionalizador) das opções alheias não me satisfaz nada.
Já agora, na Europa de XXI, com pouco analfabetismo e nada total iliteracia não houve um povo, seus académicos cientistas quadros médios e superiores, que elegeu e reelegeu um tal de Sócrates? Saber ler e escrever não é isso do "sine qua non", como a história pátria recente nos mostra
De Pedro a 30.10.2018 às 08:28
Deixo aqui uma sugestão :
The Myth of the Rational Voter: Why Democracies Choose Bad Policies is a 2007 book by Bryan Caplan, in which the author challenges the idea that voters are reasonable people that society can trust to make laws. Rather, Caplan contends that voters are irrational in the political sphere and have systematically biased ideas concerning economics.
Existe a versão gratuita na net, em PDF. É vinhos, é livros....dou-lhe tudo

De Rui Henrique Levira a 30.10.2018 às 12:22
Pois, meu caro JPT, tem o senhor todo o direito a pensar como pensa (e as minhas desculpas se eu - é sempre uma provável hipótese - o interpretei mal). Eu, por minha parte, mantenho tudo o que disse: só mesmo gente alienada e irremediavelmente manipulada vota em quem irá fazer da sua já pobre vida um inferno.
Quanto ao exemplo de literacia da lusa gente, convirá o prezado JPT que o exemplo, posto contra a luz contrastante do resto da Europa Ocidental, tem as suas limitações: por volta de 1900, a taxa de analfabetismo da Inglaterra aproximava-se dos zero por cento; em Portugal essa taxa andaria por volta dos setenta a oitenta por cento. Isso explica. a meu ver, não pouco do devir histórico do Portugal do século XX e algumas das nossas idiossincrasias, não sendo a nossa inevitável queda por homens com um piquinho a autoritarismo - chamem-se eles Sócrates ou Cavaco - a menos nefasta delas.
Cumprimentos, caro JPT.
De jpt a 30.10.2018 às 14:04
os austriacos, que têm escolas espalhadas, votaram Haider - a velha teoria sobre a quantidade de cultura transmitida na educação escolar e a pertinência das decisões cívicas, está por demais gasta para ainda ser discutida
De Pedro a 30.10.2018 às 14:49
A comunidade médica, incluindo Konrad Lorenz, prémio nobel, adorava o eugenismo. Era necessário eliminar a escória da sociedade, diziam eles
De jpt a 30.10.2018 às 20:42
eram muito radicais; não tinham humores. Há certas manhãs que concordo com isso Depois passa-me
De Rui Henrique Levira a 30.10.2018 às 15:17
Pois, a coisa só tem um problema: a sofisticação intelectual, comunicacional e teórica do Haider anda para a do Bolsonaro como os dotes vocais do Camané andam para os do Quim Barreiros. Uns untam a coisa com banha da cobra que,à vista desarmada, passa por manteiga; outros besuntam a vontade do eleitorado com banha da cobra que parece aquilo que é.