Acaba agora o Janeiro - incrível como isto voa... E se assim acaba o Janeiro seguir-se-á, dirão que teria dito o Senhor de La Palice, o Fevereiro. Por isso há hoje dois marcos: para quem se interessa pelo assunto encerra hoje o mercado de transferências futebolísticas; e neste próximo mês cumprir-se-á um ano da guerra russo-ucraniana (sim, como disse acima, o tempo voa...). Por isso volto atrás, a esse início de 22 e à que Moscovo julgou uma "guerra relâmpago", na crença putinista da adesão ucraniana aos libertadores russos - "contra o poder nazi e drogado" - e da emergência do silêncio fariseu europeu e da atrapalhação bidenesca, esta antes demonstrada em torno de Cabul.
Lembro esse início por cá, os russos saudados, implícita e explicitamente, pelos do "compromisso histórico", aquele entre os comunistas brejnevistas (os do "simpático" António Filipe, que se desdobrou em dislates russófilos) e dos enverhoxistas, maoístas, trotskistas, polpotistas e quejandos, em tempos agregados sob os velhos Louçã/Rosas/Fazenda e agora ditos "sociais-democratas" sob as "meninas" do Rosas. Todos esses neste putinismo agregados aos fascistas, ditos "soberanistas", esses do tipo Tanger, o dirigente do CHEGA em tempos tão peculiar nosso cônsul em Goa - "once a fascist always a fascist" poder-se-ia clamar se não tivéssemos dado o nome de um hitleriano ao aeroporto da capital...
Enfim, devaneio, a embrulhar o que foi óbvio: no início da guerra ucraniana fascistas e comunistas ergueram-se a defender a legitimidade do "espaço vital" russo - o argumento nazi então adoptado pela futura professora do ISCTE Mortágua, a "inteligente" do BE. E a maioria da sociedade ergueu-se, irada ou incomodada, em defesa da agredida Ucrânia, tal como aconteceu nas congéneres democracias. Desde então seguiu o apoio possível (apesar das trapalhadas ministeriais - vão os tanques diz o MNE, não vão os tanques diz a ministra da Defesa, enfim, quem conheça os ministros que lhes pergunte o que andam para ali a fazer...). O país aderiu, Milhazes mandou os russos para o "caralho" e virou ícone, cerrámos fileiras com as democracias ocidentais contra o imperialismo russo e nisso até aturámos os generais comunistas e os académicos "alterglobalistas" e "abissais" a defender Putin nas tvs e jornais "de referência". "Comme il faut" na democracia, dar a voz pública aos trastes...
Isso implicou as possíveis sanções económicas (dada a dependência energética) - mas ainda assim imensamente maiores do que o então foi alvitrado. Cesuras político-diplomáticas. Enorme apoio militar a Kiev, e económico. E ruptura de relações desportivas, pois estas entendidas como vector de propaganda nacionalista. E tudo isso implicando, por cá e alhures, inflação, empobrecimento, convulsão política e aquecimento intelectual. No início também uma, compreensível mas logo combatida, xenofobia: alguns factos de "cancelamento" ou censura a vultos russos. Logo revertidos, no entendimento que as objecções a ter não são contra os cidadãos russos (muitos em êxodo após as mobilizações generalizadas). Mas sim contra o Estado de Putin, os seus grandes apoiantes (ditos "oligarcas") e as empresas russas. Tudo isso são os custos da luta (guerra) pela democracia, por defeituosa que esta seja e surja aqui e ali.
Mas entretanto, hoje, 31 de Janeiro, quando avançamos para um ano de guerra inaceitável, o Sport Lisboa e Benfica, instituição de utilidade pública e sempre sequiosa do apoio estatal, anuncia o segundo acordo com clubes moscovitas para transferência de jogadores de futebol. Não há um ruído na imprensa, não há um desconforto governamental, um remoque partidário. Nem um protesto dos "democratas" benfiquistas. A direcção do popular clube vira as costas ao Estado, à sociedade, no afã de uns milhõezinhos de euros naquela economia paralela do jogo. Ou seja, a escumalha da bola faz o que quer no país de opereta... E os nossos líderes nada mais anseiam do que o convite para os camarotes, enquanto os "colunistas" nada mais querem do que o fakeorgasm do Marquês...
E se isto não é um sinal da derrota democrática então não sei do que precisais. Eu reencho-me de Queen Margot e ouço o velho "Safe European Home". Porque o punk não são os putinistas identitários...
London Calling_Safe European Home/The Clash in Japan1
11 comentários
eu 31.01.2023
Então e o GD de Chaves com a venda do João Batxi para o Krasnodar ?
Essa transferência significa o mesmo. Ressalvo que o facto do Chaves ser menos relevante em termos nacionais implica que tal transferência não aparece nos cabeçalhos/primeiras páginas dos jornais desportivos digitais - o que implicou o meu desconhecimento disso. Mas também significa outra coisa: um menor impacto social do conteúdo efectivo destas transferências, que é o de um apoio ao normalizar imediato das relações económicas e desportivas com a Rússia. É evidente que há quem não consiga sair do mais abjecto dos clubismos e não veja isso.
Qual é, exatamente, o mal de clubes portugueses negociarem com clubes russos a transferência de jogadores de futebol? Estão dessa forma a ajudar o esforço de guerra russo? Estão a dar prestígio e propaganda à Rússia? Estão a violar alguma sanção imposta à Rússia?
comentador balio, você que é picuinhas deveria ter mais atenção à forma dos seus comentários - não se trata de haver um "mal", trata-se de haver um sentido à acção. Que é o da normalização das relações com a Rússia - e não preciso de compor essa óbvia conclusão com repetições e adendas ao que argumentei no postal. Não consegue ver isso, homem? Foda-se, então a andamos a discutir se mandamos o nosso melhor armamento para a Ucrânia para combater os russos e o Benfica (sempre encostado ao Estado e com os políticos sempre a ele encostados) anda a ceder os jogadores secundários aos clubes de Moscovo? Suspenda lá a sua vertigem de contradição, porra
Portanto, jpt pensa, e muito bem, que "as objecções a ter não são contra os cidadãos russos", porém, pensa também que se pode e deve punir aquelas pessoas que jogam futebol em clubes russos, e aquelas pessoas que gostariam de poder jogar futebol em clubes russos, por uma questão de princípio recusando-se a fazer todo e qualquer negócio com clubes russos. Eu discordo. Se um jogador de um clube português deseja ir jogar para um clube russo, ou se um jogador de um clube russo deseja vir jogar para um clube português, esse jogador não deve ser punido e o clube português deve negociar, cordatamente e civilizadamente, a sua transferência com o clube russo.
Desta vez jpt, com algumas habituais palavras de 500 paus, dá uma grande volta por quem não vai à bola, e põe o seu antibenfiquista primário em posição pouco abonatória da sua inteligência. É a segunda vez que trata deste assunto com o SLBenfica e profissionais desportivos russos, só do Benfica e só futebolistas. jpt, por causa da guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia por esse facto, está a transformar estes casos como o que aconteceu no séc.XIX com escravos do "La Amistad" serem considerados uma mercadoria. O SLBenfica não está a violar numa sanção económica contra a Rússia, os jogadores profissionais de futebol, ou outra modalidade, não são mercadorias, como a rainha da Hespanha considerava os escravos do "La Amistad". Ou, a não ser que jpt seja apoiante da criação de um "Muro de Kiev" para ninguém do ocidente possa passar para a Rússia, mas isso será outra conversa.
"...A direcção do popular clube vira as costas ao Estado, à sociedade, no afã de uns milhõezinhos de euros naquela economia paralela do jogo. Ou seja, a escumalha da bola faz o que quer no país de opereta... E os nossos líderes nada mais anseiam do que o convite para os camarotes, enquanto os "colunistas" nada mais querem do que o fakeorgasm do Marquês..." Sim senhor, jpt, poética contenção a sua.
https://www.slbenfica.pt/pt-pt/agora/media-list/videos/2022/12/27/clube-benfica-fundacao-acao-solidaria-juntos-pela-ucrania Já agora pugne para que a agremiação de que é adepto faça o mesmo.
Ana Lima, Ana Margarida Craveiro, Ana Sofia Couto, André Couto, Bandeira, Cláudia Köver, Coutinho Ribeiro, Francisca Prieto, Inês Pedrosa, Ivone Mendes da Silva, João Carvalho, José António Abreu, José Gomes André, José Maria Pimentel, Laura Ramos, Luís M. Jorge, Marta Caires, Paulo Gorjão, Rui Herbon, Rui Rocha, Tiago Mota Saraiva