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Delito de Opinião

O apocalipse da Grécia.

Luís Menezes Leitão, 02.02.15

O termo grego αποκάλυψις (etimologicamente "tirar o véu") significa "revelação". Devido ao livro atribuído ao apóstolo João, que descrevia as suas visões escatológicas na ilha de Patmos, a expressão "apocalipse" passou a também a ser usada para designar o fim do mundo. E em certo sentido, a polissemia até se justifica, uma vez que há revelações tão dramáticas que delas só pode resultar a catástrofe generalizada. É por isso que até na Bíblia avisadamente o Rei David diz: "Põe deveras uma guarda à minha boca, ó Jeová. Põe deveras uma sentinela sobre a porta dos meus lábios" (Salmos, 141, 3).

 

Parece-me que algumas revelações deste tipo andam a ser feitas pelo novo Ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis. Segundo se pode ler aqui o Ministro é iconoclasta, criativo, não quer guerra, não faz bluff, e gosta de rir de si próprio. De facto, o referido Ministro parece ser uma pessoa muito simpática, vai continuar a ser um conhecido blogger,  e até podemos simpatizar com a forma desarmante com que responde a uma entrevista séria da BBC. A questão é que um Ministro das Finanças tem que ter muito cuidado com o que diz, o que não parece ser o caso deste, e as suas declarações podem vir a ter consequências muito sérias.

 

Vejamos o que diz o Ministro das Finanças nessa entrevista: Que não quer a extensão do programa de resgate, nem receber mais dinheiro da troika, porque o problema da Grécia não é um problema de falta de liquidez, mas sim um problema de insolvência. Eu por acaso estou de acordo com ele e acho que meio mundo também está. Só que esse meio mundo não ocupa o cargo de Ministro das Finanças da Grécia, porque uma declaração dessas vinda do Ministro das Finanças grego tem um significado óbvio: que a Grécia se prepara para declarar imediatamente a bancarrota. É a solução óbvia porque até já tem saldo primário para o poder fazer, uma vez que eliminando o pagamento dos juros consegue sustentar-se internamente.

 

Só que uma declaração de default de um Estado não se faz com pré-avisos desta ordem. Faz-se de forma súbita, acompanhado de medidas de congelamento imediato de todas as contas bancárias e de controlo das saídas de capitais. Porque depois de o Ministro das Finanças fazer estas declarações não me parece que haja um único castiçal que fique na Grécia ou que sobre um cêntimo nas contas dos bancos gregos. Na verdade, esta revelação do Ministro das Finanças é mesmo o apocalipse da Grécia, pelo menos no que ao sistema monetário europeu diz respeito.

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