O adMiróvel mundo das decisões racionais
Situação A
Um país arruinado descobre um dia que veio parar-lhe às mãos uma colecção com 85 quadros de Joan Miró. A venda das pinturas geraria, ao que parece, receitas não inferiores a 36 milhões de euros. A intenção de os vender provoca grande polémica. A indignação é tal que Gabriela Canavilhas ameaça nunca mais aceitar um cargo cultural de nomeação política se as obras forem a leilão e António José Seguro recusa respirar durante para aí três segundos.
Situação B
Imagine-se agora que o mesmo país arruinado não tem os quadros. São de um investidor privado e a Christie's leva-os a leilão em Londres. O país arruinado inscreve-se, licita e arremata a colecção por 36 milhões de euros. O Secretário de Estado Barreto Xavier anuncia a vitória, de olhos arregalados, numa declaração emocionada ao país. Luís M. Jorge é convidado para conceber e concretizar um plano de atracção de turistas que virão a Portugal fruir da exposição das 85 pinturas. Embevecidos, todos estamos de acordo: investir os 36 milhões de euros na colecção Miró foi uma excelente decisão política. Certo? Ou não?
Nota: se as instâncias culturais do país me consultassem, coisa que insistem em não fazer sabe-se lá porquê, dir-lhes-ia na situação A para não vender e na situação B para não comprar. É lixado, não é? Agora, se não se importam, vou ali reler o Kahneman.