Novo layout
Há tempos o Facebook resolveu alterar o layout a pretexto de umas imaginárias melhorias. Agora que já estou mais habituadinho acho que percebi a necessidade: deslocaram mais coisas para o cabeçalho para a publicidade se ver melhor.
Andei uns tempos agarrado à versão antiga, com o apoio de um site que queria servir os milhões que, como eu, não apreciaram a baldroca. Mas começou tudo a funcionar mal, os moços do site não podiam ganhar a guerra com o czar Zuckerberg.
Imagino que muita gente gostou, a mesma que acha que o moderno é sempre melhor e pronto: vale para toilettes, daí que os locutores da Sic se apresentem com fatos arrepanhados, um número abaixo do que compete; para os interiores mais recentes dos carros topo-de-gama (isto é, os que os jornalistas invejosos assim denominam), que têm uma quantidade de luzes de várias cores que os transforma em discotecas para alucinados; para restaurantes, que começam a perder clientela quando conservam demasiado tempo a mesma decoração porque o cliente, que aprecia lixo moderno no prato, também o quer na decoração; e para piroseiras sortidas, que o engenho para vender sucata inventa.
Há muito tempo, herdei o gabinete, e temporariamente o lugar, de uma pessoa que estimava e respeitava muito. Tinha uma velhíssima secretária de madeira, salvo erro em mogno, e o resto a condizer. Pois o presidente (era uma câmara municipal, e a personagem fatalmente um socialista) insistiu em que a mobília fosse substituída por uma coisa mais arejada. Não foi, claro, enquanto lá estive o velho móvel serviu como fazia há décadas, e abstive-me de lembrar caridosamente ao enxerido que o que precisava de substituição era o blusão de napel em que se apresentava e o shampoo que usava, se usava, porque tinha caspa.
Pois bem, descobri num canto do novo arranjo daquela rede que tinha para cima de mil pedidos pendentes para gostar de páginas. E, penosamente, fui mondar aquilo, descobrindo com espanto que:
Há tantos, mas tantos, mediadores imobiliários, que não se me dá imaginar que o seu número deve ser igual ao de casas à venda; há uma prodigiosa colecção de prosadores e poetas, em número que estimo pelo menos igual ao de leitores; indivíduos que se apresentam como “político” preencheriam sem esforço várias assembleias da república; e gente a vender coisas da mais variada índole é tanta que facilmente abasteceria de forma satisfatória todo o mercado do Bangladesh se lá cessassem de produzir fosse o que fosse.
A malta das escritas distingue-se geralmente por frases profundas e inspiracionais, se forem prosadores, e pungentes e nobres sentimentos se forem poetas, uns e outros reclamando atenção às suas peregrinações interiores rumo à alma que creem dourada. Dito de outro modo, para ler uns é preciso pôr um escafandro e para outros montar umas asas, dois exercícios completamente fora do meu alcance.
Sucede que, mesmo que esta amostra não seja representativa, e com excepção dos intelectuais, traduz uma realidade triste: são pessoas a fazer pela vida, muitas com mérito, e que, pela maior parte, terão um sucesso menos do que moderado.
A nossa economia é tíbia, as oportunidades escassas, o capital disponível praticamente nulo, a fiscalidade rapace, sôfrega e arrogante, o Estado omnipresente nas esquinas da vida e endividado até às orelhas, o futuro incerto, agora mais ainda do que no passado.
À sombra desse Estado é onde toda a gente que não quer ou não pode emigrar se quer abrigar porque o passadio é menos mau e o futuro mais seguro. E a nossa tragédia é que o país não cresce porque o Estado é obeso; quem o quiser emagrecer compra inimigos; o país investe fortemente na educação para exportar mão-de-obra qualificada que, se tiver sucesso, não volta aqui a pôr os pés; e a quase totalidade da Academia, mormente nas áreas ligadas a estas coisas, digladia-se quanto à forma de o administrar, enquanto se vai queixando do empresariado que temos, por causa da formação que dizem que lhe falta, e que todavia é suplementado, todos os anos, com fornadas de gestores altamente qualificados. Os quais, por saberem falar inglês, dão à sola porque por cá publicam anúncios no Facebook nos intervalos do trabalho no call center ou no takeaway.

