Noite eleitoral (1)
1. Castigo pesado da coligação no Governo. O pior resultado de que há memória para o PSD em coligação com o CDS. Fica bem evidente que certas somas apenas servem para subtrair: repetir em legislativas a fruste coligação eleitoral das europeias será mais um erro político a somar a tantos outros. Resta ao centro-direita procurar captar parte dos seus eleitores tradicionais que desta vez optaram pela abstenção.
2. "Reconciliámo-nos com o País", declarou o cabeça de lista do PS, Francisco Assis. Com um sorriso nada triunfalista, o que é prova de saudável prudência. Os socialistas venceram. Mas, muito aquém dos 44% conquistados por Ferro Rodrigues nas europeias de 2004, estão longe de convencer boa parte do eleitorado. E não conseguiram criar nenhuma onda avassaladora que lhes permita reclamar legislativas antecipadas. Cada coisa a seu tempo.
3. A CDU combateu com êxito a tendência abstencionista, mobilizando o seu eleitorado. Obtém um dos melhores resultados de sempre em europeias, consolida-se como terceira força política e quebra a dinâmica de vitória do PS, cumprindo assim o seu principal desígnio estratégico numa eleição que potencia o voto de protesto como nenhuma outra.
4. O BE afunda-se. E não pode culpar os jornalistas: teve muito mais cobertura mediática do que o MPT, que ficou claramente à sua frente. Deve antes culpar-se a si próprio. Por ser Bloco só de nome (teve duas dissidências, pela esquerda e pela direita). Pela liderança bicéfala que escolheu como se padecesse de crise de identidade. E por funcionar como cópia do PCP, esgotando-se em acções de protesto. O original é sempre preferível à cópia: só Alfredo Barroso parece ter-se convencido do contrário.
5. Em noite de europeias, há comentadores residentes nas pantalhas que não fazem ideia quantos deputados tem o Parlamento Europeu. Alguns, estranhamente, até parecem fazer gala nisso. Espero que as televisões se lembrem deles na próxima vez em que decidirem fazer uma daquelas reportagens de rua com perguntas de algibeira destinadas a provar que o povo é ignorante...

