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Delito de Opinião

No tiene abuela

Diogo Noivo, 24.01.16

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Pablo Iglesias baralha e volta a dar. Em conferência de imprensa na passada sexta-feira, o líder do Podemos abdicou do “imprescindible” referendo à independência da Catalunha e afirmou que Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, tem o governo de esquerda ao seu alcance, basta querer. Afinal, até os partidos da vanguarda popular (e populista) voltam com a palavra atrás. Aos ingénuos que acreditam na chegada de um tempo novo, sejam bem-vindos ao mundo real.

Como se diz em Espanha, há gente tão confiante nas suas capacidades e no seu valor que certamente no tiene abuela. Assim, e sem informar o PSOE, Iglesias surge em público a exigir ministérios e propõe-se para vice-Presidente de Governo. Mas isto é pouco. Com uma bazófia épica, e para piece de resistance, acrescentou “que Sánchez pueda llegar a ser presidente es una sonrisa del destino que me debe agradecer”. Fosse a política espanhola uma praça de touros e ter-se-ia ouvido um retumbante Olé!. As negociações PSOE-Podemos só se iniciaram este fim-de-semana, mas os socialistas ficaram logo a saber na sexta-feira quem mandará numa eventual coligação das esquerdas.

 

Sánchez foi humilhado no dia das eleições com o pior resultado do PSOE deste 1977 e leva agora um enxovalho atroz. A primeira fila socialista acusou o toque do insulto. Qual é então a intenção do Podemos? Em artigo de opinião publicado no El País de ontem, José Ignacio Torreblanca explica a jogada. Recuperando uma entrevista dada por Pablo Iglesias à revista New Left Review em Maio do ano passado, Torreblanca recorda que, segundo o líder do Podemos, o PSOE tem duas correntes: uma primeira, “de régimen”, cuja principal missão é travar o Podemos e, por isso, disponível para negociar com o PP de Rajoy; e uma segunda corrente, “partidista y más de izquierdas”, disposta a dar espaço de crescimento ao Podemos. Perante este PSOE à imagem de Janus, que fará o Podemos? Pablo Iglesias não hesita: o Podemos explorará estas contradições do partido socialista espanhol. Juntando estas declarações do passado ao anúncio recente, José Ignacio Torreblanca conclui que o objectivo de Iglesias não é negociar com o PSOE um governo de esquerdas, como em Portugal, mas sim destruir o partido socialista e substitui-lo, como o Syriza fez ao PASOK. “Sánchez debería pues olvidarse de Lisboa y a cambio mirar a Atenas”, remata Torreblanca. Resumindo, muda o contexto, mas Sánchez continua em maus lençóis.

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