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Delito de Opinião

(N)o estrangeiro é que é bom

jpt, 01.09.23

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Nestas ambivalências correntes uma das mais estuporadas é mesmo a confluência entre a resmunguice xenófoba (avessa a "estes gajos" que cá chegam) e a desvairada autocrítica ("isto lá fora nunca acontece"). E nisso vai vingando a pateta ideia de que "no estrangeiro é que é bom", outros comportamentos, outras éticas, outra racionalidade. Vem-me isto a propósito da convocatária para os jogos da selecção nacional de futebol, inseridos no apuramento para a fase final do Campeonato Europeu. Não serão jogos particularmente difíceis (sim, eu sei, há décadas que os comentadores dizem, como se fosse novidade, "já não há jogos fáceis"), diante da Eslováquia e do Luxemburgo. Mas é a selecção nacional, a trabalhar para se apurar e (sempre) a preparar-se para o futuro. E para o presente.

Acontece que o novo seleccionador nacional - o espanhol Martinez, solução até excêntrica numa era em que os treinadores portugueses são um "must" mundo afora (veja-se o Brasil, a milionária Arábia Saudita, a própria Inglaterra, para além de tantos outros compeonatos), uma "escola" privilegiada mas preterida pela tão abonada Federação Portuguesa de Futebol - acaba de anunciar os seleccionados para os dois embates. E se seria normal que colhesse o apreço ou a desconfiança oriunda do "no estrangeiro isto não acontece", o que se vê é que Martinez é o perfeito avatar do conservadorismo mesclado de servilismo clubístico do anterior seleccionador Santos. Pois para dois jogos relativamente fáceis - e com o apuramento muito bem encaminhado - Martinez não abre o jogo, não avança com jovens ou com consagrados de segunda linha. Chama, como Santos sempre fez, os oriundos do Benfica, independentemente do estado deles. Cancelo é um excepcional lateral. João Félix é um belíssimo jogador - é o João Vieira Pinto desta geração, insuficiente para um "grande" europeu mas precioso para o futebol português. Mas neste momento estão no limbo de não terem clube, decerto que treinando menos e nunca jogando. São assim chamados por "estatuto" e não por mérito actual. Martinez, o estrangeiro cooptado, mostra-se assim um homem do Antigo Regime, um homem da sociedade das ordens... Os "nobres" tem lugar cativo (porventura até "direito de pernada"). Os outros que se aguentem. Alternativas? Não é comigo, não sou profissional da poda. E não estou aqui a "puxar a brasa à minha sardinha" sportinguista. Apenas noto uma coisa: ao chamar gente que não está a jogar (que nem sequer tem clube) Martinez mostra que é um erro "de casting", como se diz. Infelizmente, só no final do mais do que provável medíocre futuro campeonato isso será institucionalmente reconhecido. É apenas mais uma etapa de uma velha história, no futebol e não só. Isto do clientelismo, amiguismo, "clubismo" neste caso. Ou mesmo "agentismo". 

Enfim, ganhar-se-ão, por mais ou menos, estes jogos fáceis. Pois há muitos bons jogadores em Portugal. Só falta mesmo... bom seleccionador. 

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