Nítido nulo
Debate interno? Discussão? Listas em confronto? Votos dos militantes? Esqueçam. Isso são trivialidades dos "partidos burgueses", entretidos com discussões fúteis que não interessam ao zé-povinho.
No PCP é tudo mais simples. Reúnem-se seis mecos à porta fechada, escolhem um deles que ninguém conhece fora das paredes blindadas do partido e toca a anunciar a boa nova por comunicado aos militantes e ao País às 21 horas de sábado, enquanto decorre um jogo de futebol. Belo exemplo do conceito comunista de "democracia".
O mais caricato, neste opaco processo de remoção de Jerónimo de Sousa de secretário-geral do quinto maior partido português, é a total ausência de biografia do camarada agora ungido para o posto máximo. Um perfeito desconhecido: Paulo Raimundo nunca se candidatou a coisa alguma, nunca exerceu qualquer função à margem da muralha partidária, não tem sequer profissão. Sabe-se que nasceu em Cascais (vila conhecida pela sua aguerrida "militância operária") há 46 anos, aderiu aos 18 à Juventude Comunista (o PCP também tem "jotinhas") e é membro do Comité Central desde 1996 - toda uma vida como funcionário do partido, sua exclusiva entidade patronal. Nunca esteve desempregado, claro. Embora vá perorar vezes sem conta sobre questões laborais quando enfim abrir a boca fora do bunker da Rua Soeiro Pereira Gomes.
Estamos perante um nítido nulo: a escolha perfeita para liderar um partido que se arrasta em penosa agonia de eleição em eleição. Nulidade a tal ponto que os "marqueteiros" comunistas tentaram criar-lhe uma página autónoma na Wikipédia, na própria noite de sábado, sem nada terem para lá pôr. Aquilo acabou por ficar bloqueado e tiveram de apagar o rascunho inicial até aparecer uma coisa mínima em que inventam ao ungido "profissões" que nunca exerceu - padeiro, carpinteiro, operário.
Processo com contornos que envergonham qualquer democrata genuíno.
E um escárnio para os verdadeiros padeiros, os verdadeiros carpinteiros, os verdadeiros operários.