Nem uma unha encravada

Nunca mais levou as mãos ao peito, com esgares de aflição. Nunca mais desfaleceu perante as câmaras. Nunca mais sentiu afrontamentos. Nunca mais se exibiu numa cama de hospital, com pensos no peito e um terço na mesa de cabeceira. Nunca mais se queixou de ter inimigos invisíveis com vontade de o matar.
André Ventura tem aparecido todos os dias cheio de energia, irradiando saúde. Não falha um telediário. Contados os votos, ampliada a sua bancada parlamentar, parece ressuscitado como putativo «líder da oposição». Nenhum semblante sofredor, nem rasto de falta de ar. Os espasmos esofágicos desapareceram.
Conclusão óbvia: fez-lhe muito bem passar sucessivamente durante cerca de 48 horas, como alegado doente grave, pelas urgências de três hospitais públicos - o de Faro, o de Santiago do Cacém e o de Setúbal. Por azar ou sorte, em plena campanha eleitoral. A escassos dias da chamada dos portugueses às urnas.
Já ninguém o imagina a repetir o que escreveu na manhã de 13 de Maio, na sua conta oficial do X, contra «o caos de macas deixadas nos corredores» do hospital de Faro como «símbolo do estado em que PS e PSD deixaram a saúde». Isso foi antes. Horas depois, o discurso tornou-se outro, em homenagem aberta ao Serviço Nacional de Saúde.
Ei-lo agora são que nem um pêro. Nem sequer uma unha encravada. O milagre que um breve internamento faz...


