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Delito de Opinião

Nem como se lê nem como se diz

Pedro Correia, 28.08.14

Certos defensores do "acordo ortográfico", inimigos confessos da etimologia, afirmam que uma língua deve ser escrita «como se lê». Isto é puro disparate: se a escrita antecede a leitura, como é que a norma ortográfica pode estar condicionada por algo que lhe sucede em vez de a preceder?
Outros afirmam que uma língua deve ser escrita «como se diz», pretendendo subordinar a ortografia à fonética. «A língua tem factores de carácter histórico que não podem ser desconsiderados», objectou o historiador brasileiro Jaime Pinsky, pronunciando-se sobre o tema num debate ontem realizado em São Paulo, no âmbito da 23ª Bienal Internacional do Livro.

Está cheio de razão: o primado da fonética anula o espírito normativo que deve conformar toda a convenção ortográfica, instituindo uma escrita à la carte. Se em Lisboa, por exemplo, não falta quem diga mêmo em vez de mesmo, tar em vez de estar ou joálho em vez de joelho, escreva-se assim. Se em Braga se diz barrer em vez de varrer, escreva-se assim. Se em Beja se diz pinhêro em vez de pinheiro, escreva-se assim.
É uma lógica que não aguenta dois segundos de análise. Nem dois segundos de discussão.

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