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Delito de Opinião

Negócios Estrangeiros

Diogo Noivo, 28.03.18

Moscovo está apostada na desestabilização política da Europa. Interferiu no referendo que culminou com o Brexit, como interferiu também no supuesto referendo de 1 de Outubro na Catalunha (de acordo com a organização Securing Democracy, os perfis russos no Twitter aumentaram em 2000% a sua actividade a favor da independência catalã na véspera da alegada consulta popular). Nas presidenciais francesas os sinais de interferência foram menores, mas o flirt com a Frente Nacional de Marine Le Pen foi claro. Embora as consequências destas intromissões sejam difíceis de aferir, o propósito de criar brechas no espaço europeu é inegável.

São, contudo, factos com contornos difusos quando comparados com o sucedido na Crimeia, com a constante violação do espaço aéreo de países do Norte e Leste da Europa, com os ataques cibernéticos a países europeus, ou com a exploração de antagonismos políticos existentes no seio de países como a Áustria, o Chipre, a República Checa ou a Eslováquia. O envenenamento de Sergei Skripal, antigo espião russo a residir no Reino Unido, é apenas o último de uma longa e penosa lista de episódios condenáveis.

Perante a sucessão de casos, 23 países ocidentais decidiram levar a cabo a maior expulsão de diplomatas russos na História contemporânea. Após anos de interferência e de pressão, há uma frente democrática que se opõe ao acosso vindo da Federação Russa. Portugal pôs-se de fora. Informa o Palácio das Necessidades que prefere a “concertação” no quadro da União Europeia para “responder à gravidade da situação presente” – nesta matéria, parece que a concertação não é uma “feira de gado”.

A prudência é sempre boa conselheira. No entanto, importa ter presente três aspectos. Primeiro, o silêncio da Europa não deu bons resultados – as intromissões russas tornaram-se cada vez mais agressivas e danosas para a salubridade democrática na Europa. Segundo, Portugal deve estar atento porque, depois de ter sido um dos últimos países a aderir à Cooperação Estruturada de Defesa, convém que não existam dúvidas sobre o nosso compromisso com a estabilidade e a segurança europeias. Terceiro e muito importante, o Governo não deve confundir os interesses nacionais, que no plano externo assentam em grande medida na União Europeia e na Aliança Atlântica, com os interesses paroquianos que estão na base da solução política que sustenta o Executivo de António Costa.

4 comentários

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    Diogo Noivo 28.03.2018

    As intromissões em actos eleitorais são conhecidas e inegáveis, muito embora seja difícil aferir quantitativamente o seu impacto - o qual, para efeitos de identificação de ameaça, é irrelevante. Porém, são conhecidos, inegáveis e mensuráveis as violações de espaços aéreos europeus, os atropelos legais e políticos resultantes da intervenção na Crimeia, ou a forma como Moscovo condiciona e manipula sentimentos de insatisfação popular e partidária em países do Norte e do Leste europeu. Em política nunca se tem todos os dados, mas no que toca à Federação Russa o que existe chega perfeitamente para tirar conclusões - se houver vontade e compromisso com a estabilidade europeia, claro.
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    Luís Lavoura 28.03.2018

    atropelos legais e políticos resultantes da intervenção na Crimeia

    É verdade que esses atropelos existem, mas que dizer do completo atropelo de todas as normas internacionais que foi a intervenção da NATO no Kosovo?

    Quando o "Ocidente" atropela as normas, não pode depois carpir-se que a Rússia também as atropela.

    É claro que se pode argumentar que a intervenção no Kosovo foi por uma boa causa (os pobrezinhos dos albaneses oprimidos, etc), mas então a intervenção na Crimeia também o terá sido (a população russa da Crimeia oprimida por ferozes nacionalistas ucranianos, etc).

    Ao menos a intervenção russa na Crimeia teve a vantagem de não ter feito mortos nem feridos. O mesmo não se pode dizer da intervenção da NATO no Kosovo, que consistiu num bombardeamento selvagem de cidades sérvias.
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    Vlad 28.03.2018

    "É verdade que esses atropelos existem, mas que dizer do completo atropelo de todas as normas internacionais que foi a intervenção da NATO no Kosovo

    "os pobrezinhos dos albaneses oprimidos, etc"

    Sobre os etc:

    Massacre de Račak
    https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Račak

    https://www.youtube.com/watch?v=_TtTeGbPC5c

    https://www.youtube.com/watch?v=TUWiy04sH5A

    Comparar a Crimeia à intervenção da NATO é absurda!!
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