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Portugal não tem um problema com imigração muçulmana e também não tem uma rebelião populista como a que continua a crescer na Europa, numa reacção em torno da ansiedade económica e cultural de importantes camadas da população, sobretudo as que têm menos acesso aos meios de comunicação e às preocupações dos partidos tradicionais. O politicamente correcto que inunda o discurso das elites e que se instalou em força nas redacções está a fazer grandes estragos: muitos eleitores acham que a sua voz não é ouvida e acham até que a sua identidade é desprezada.
O texto de João André, mais abaixo, sobre o movimento populista Pegida, cita um artigo em The Economist que vale por mil palavras. A certo ponto, é citado um cavalheiro que diz mais ou menos isto: os muçulmanos não são um problema, quem não se integrou na República Federal da Alemanha foram os alemães que protestam em Dresden (na Alemanha de Leste). Esta visão das coisas é extraordinária. As pessoas que vivem em locais da Alemanha de Leste não se podem pronunciar sobre as políticas da Alemanha. Os eleitores que vivam em zonas onde haja baixas proporções de imigrantes não se devem pronunciar sobre a política de imigração da Alemanha. Talvez fosse lógico propor que os votos sejam diferentes, consoante se é alemão do Ocidente ou do Leste, se o tema é fracturante ou não. Talvez fosse lógico fazer um catálogo de temas apropriados a manifestações.
Se os partidos não compreendem que têm de ouvir os eleitores não compreendem nada, mesmo quando discordam ou quando mostram caminhos alternativos ou quando provam que o problema não é tão grave como o pintam estes segmentos da opinião pública. Apagar a luz, fazer contra-manifestações ou grandes discursos em que se acusa as pessoas de serem alemães de segunda só irá lançar estes eleitores para as mãos do primeiro demagogo que mostre alguma disponibilidade para os ouvir. Além disto, demonstra grande medo.
Por causa deste género de alienação do eleitorado, os populistas do Podemos estão à frente nas sondagens em Espanha, o Syriza prepara-se para vencer na Grécia, políticos como Marine Le Pen, Nigel Farage ou Geert Wilders são ameaças concretas aos partidos tradicionais, como são outras formações populistas ou extremistas (praticamente todos os países têm uma, à esquerda ou à direita). O fenómeno está a estender-se a toda a Europa e vai dificultar os habituais entendimentos entre centro-direita e centro-esquerda que dominaram a política europeia nos últimos 30 anos. A rebelião populista não vai desaparecer do mapa e alimenta-se da surdez das elites. Resta saber se Portugal também entra nesta dança.
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