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Delito de Opinião

Na sopa 2- A fingir

Maria Dulce Fernandes, 20.02.21

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Os americanos têm uma expressão engraçada – empty nesters - para definir aqueles casais que dão por si sozinhos entre as quatro paredes do lar, após  os filhos terem deixado a casa da família para começarem uma “nova vida".  Cá por casa a realidade é a essa mesmo.  Uma vez por semana ( antes da pandemia) temo-los de visita, temos os netos de vez em quando, mas não é a mesma coisa e reflete-se sobretudo nas refeições.  Cozinhar para dois não é a mesma coisa do que cozinhar para quatro.

Aquelas comidas tão boas e tão nossas, fartas e variadas, vão ficando para uma almoçarada sem data prevista e dão lugar a pratos igualmente bons, mas menos variados e de confecção mais rápida. É o caso do cozido à portuguesa, que depende de dois ou três   factores fundamentais para se fazer em casa : conseguir as carnes que se pretende e os enchidos também,  principalmente o chouriço de sangue que tem que se encomendar com antecedência, arranjar couves tenras e conseguir juntar oito ou dez pessoas num almoço ao fim de semana, sem recolher obrigatório às 13 horas. Escusado será dizer que não faço um cozido a sério há mais de um ano.

O meu pai era doido por cozido à portuguesa. Sempre que vínhamos do Algarve, Canal Caveira era paragem obrigatória.  O cozido de lá era muito bom e muito bem confeccionado. Do cozido que fazíamos em casa sobrava sempre  imenso, que aproveitávamos para fazer sopa, croquetes de carne e roupa velha, salteando em azeite, alho e temperando a seguir com vinagre o excedente das couves e dos legumes. Mas cozinhar um bom cozido para dois acaba sempre por ser um estrago, numa altura em que poupar está na ordem do dia.

Para matar saudades do sabor a cozido e da sopa das sobras, cozo uma bela peça de chambão em água abundante e sal a gosto. Talvez durante duas horas até a carne começar a desfiar. Tem que se rectificar a água uma ou duas vezes . A parte mais trabalhosa é cortar duas batatas médias, uma cenoura grande, cerca de 150 gramas de  abóbora, duas cebolas médias e meia curgete grande aos quadradinhos, e um quarto de couve branca e meio alho francês grande em juliana.  Depois é desfiar a carne cozida e acrescentar água à água da cozedura que tem seguramente gordura suficiente e não necessita de azeite. Começar por juntar ervilhas (ou feijão manteiga) e as cenouras, depois todos os outros legumes deixando os quadradinhos de batata e curgete pada o fim. Depois de tudo cozido junta-se carne desfiada ( não uso toda) , uma mancheia de cotovelinhos e por fim, muita hortelã. Umas rodelinhas de chouriço de carne cozido à parte, rematam o prato para quem apreciar. É tão bom de comer e é por si só quase uma refeição.

Depois de pronta, cheira à cozinha da minha avó, onde nos juntávamos doze na grande mesa com as travessas de carnes, enchidos e legumes fumegantes. E sabe tão bem!

 

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