Na morte do João Paulo Guerra
Outros falarão da sua vertente como jornalista radiofónico. Eu destaco-o sobretudo como cronista da imprensa, um dos melhores que conheci - e tive oportunidade de elogiá-lo aqui, estava ele bem vivo e com saúde.
Falo do João Paulo Guerra, que ontem morreu aos 82 anos. Ourives da escrita, capaz de escrever centenas de textos sem os polvilhar de palavras inúteis. Mestre dessa arte de narrar pequenas histórias de que é feito o grande jornalismo. Homem coerente, de causas assumidas, mas sem cortar pontes com quem pensava de maneira diferente. Excelente conversador, com discurso mesclado de ironia fina.
Era também um tímido, à sua maneira: evitava pôr-se em bicos de pés, pavoneando-se, ao contrário de tanto medíocre que por aí pulula. Costumava dizer: «Uma revolução tecnológica mudou tudo na minha profissão, só não mudou, antes reforçou, as condições para exercer com paixão e rigor o jornalismo.»
Admirava-o há muitos anos. Com a partida dele, a comunicação em Portugal fica um pouco mais pobre, o pluralismo político fica um pouco mais amputado, a memória colectiva fica um pouco mais diluída e descartável.
Leitura complementar:
Este belíssimo texto do João Paulo Guerra evocando sua mãe, Maria Carlota Álvares da Guerra, que também foi jornalista, fundadora da Crónica Feminina. Agora republicado na Mensagem, jornal digital de Lisboa.