Na esplanada
A esplanada estava deserta sob um sol radioso. O cão preso à perna de uma cadeira, fui lá dentro encomendar o de costume e vi no televisor Marcelo que dizia não sei quê no meio de uma chusma de gente.
É assim todos os dias há anos – não se percebe como ainda há quem o ature, disse para mim mesmo. Ainda por cima, pensei, parece que dorme muito poucas horas por dia, pelo que lhe sobra tempo para ir a inúmeros lugares para se aliviar de banalidades ou fazer figuras tristes.
Mas dorme pouco porquê? E de repente fez-se luz: deve falar a dormir, acordando-se com o barulho. E como nem ele tem paciência para se ouvir foge espavorido do quarto.
Provas? Costuma falar do Presidente da República como se não fosse ele, sinal seguro de ter dupla personalidade, ainda que ambas chatíssimas. E como, a julgar pelo que diz e escreveu ao longo de anos, não deve ocupar o tempo nem a reflectir nem a ler, só lhe resta falar.
Implausível, disse dele Vasco Pulido Valente. Eu digo que fica plausível se o virmos como uma pessoa mal dormida.