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Delito de Opinião

My name is Bond – although the jury is still out on my first name

Diogo Noivo, 16.07.19

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A capacidade de adaptação é essencial à sobrevivência. Mais do que um truísmo darwinista, trata-se de um princípio intuitivo para qualquer bípede que tenha de fazer pela vida. Devemos, contudo, ponderar as diferenças entre “adaptação” e “invenção”. A primeira acomoda à realidade aquilo que já existe, a segunda cria algo de novo. E o que é novo, por incipiente e frágil, tem maior probabilidade de não sobreviver. Tudo isto vem a propósito da última polémica em torno do espião mais famoso do mundo.

De acordo com uma fonte alegadamente bem informada, na próxima entrega da saga James Bond o código 007 é passado a uma mulher. A actriz escolhida será Lashana Lynch (na foto). Após 24 filmes – na verdade, contando com os não-oficiais, são 26 – e passados 57 anos da exibição do primeiro título da série, Bond troca a testosterona por estrogénio. O rumor despoletou uma arenga feroz. De um lado, os puristas indignam-se, pois Bond em versão feminina matará a essência e a história do personagem. Do outro lado, os hereges exigem que Bond espelhe as agendas e as causas do momento.

Confesso que a cor da pele da actriz me é absolutamente indiferente. Veria com bons olhos a substituição de Daniel Craig por Idris Elba, um actor, de resto, várias vezes apontado como o próximo a estar ao serviço de Sua Majestade. Não é uma cedência minha ao politicamente correcto nem às causas fracturantes, apenas creio que Elba tem três bons argumentos a seu favor: é um excelente actor; é britânico; e permitiria uma evolução do Bond de Daniel Craig sem uma ruptura abrupta com o passado. Bom, e Elba é homem.

Como bem escreve o Francisco José Viegas aqui ao lado, Daniel Craig é o melhor de todos os Bond. A sua substituição será difícil e o adiamento é prova disso – o actor expressou em termos contundentes a pouca vontade de protagonizar o filme agora em produção. Craig encarnou um James Bond celibatário e mulherengo, mordaz e inventivo, isto é, igual a todos os outros. Mas, em simultâneo, mostrou um espião que se engana, que tem dilemas, que sofre, inovações que muito se agradecem numa sociedade que parece viver obcecada com o êxito e com a perfeição. Com Craig houve uma solução de compromisso entre passado e presente, uma adaptação bem-sucedida. Transformar James Bond em mulher será uma invenção, um corte absoluto com o legado de mais de vinte filmes. Porventura uma agente secreta feminista e cáustica que use os homens a seu bel-prazer dê um filme interessante – tenho a certeza que me divertiria – e até uma saga com êxito, mas não será um Bond.

No texto já citado, o Francisco recupera declarações Phoebe Waller-Bridge, a guionista do próximo filme, que deviam ser óbvias e que denotam uma mudança importante na forma como a franquia cinematográfica retrata o sexo feminino: "Bond é Bond, mas as mulheres também são (felizmente) novas e diferentes daquilo que aparecia nos ecrãs nos anos 70 ou 80". Waller-Bridge tem fama de feminista desenfreada e será dela a intenção de atribuir o código 007 a uma mulher, um rumor que não bate certo com as declarações anteriores. Esperemos que impere o bom-senso e que se fuja daquilo que o Alexandre Guerra justamente apelidou de idiotice. É James, não Jane.

2 comentários

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    Diogo Noivo 17.07.2019

    A Bela Adormecida já foi alvo de polémica. Tinha algo que ver com "masculinidade tóxica" e com "ausência de consentimento". Enfim, paródias.
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