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Delito de Opinião

Música proibida

Cristina Torrão, 09.05.20

Diz-se que a música pode ser uma arma. Para mim, que, junto com o meu marido Horst, canto no coro gospel Lightfire, a música é, acima de tudo, alegria e partilha. Além disso, a música é uma “língua” internacional, que pode unir pessoas de proveniências díspares, seja através da participação numa orquestra, seja através da dança, ou do canto.

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O nosso coro Lightfire. O Horst é o segundo homem, a contar da direita; eu estou mais ou menos a meio, na frente, com um lenço vermelho ao pescoço. A nossa indumentária é livre, desde que se resuma às cores vermelho e preto.

 

Cantar faz feliz. Já todos constatámos que, muitas vezes, basta murmurar uma melodia para esquecer tristezas. Estudos têm igualmente provado que cantar ajuda a libertar o stress, baixando o ritmo cardíaco e a tensão arterial e fortificando o sistema imunitário.

Cantar num coro traz outras vantagens: ensina-nos disciplina, paciência e respeito pelo outro. Ensaiar uma canção a quatro vozes só é possível, tendo em conta estes três factores. Implica muito trabalho, mas o resultado final é sempre compensador. Depois dos ensaios, vou a murmurar, ou mesmo a cantar, as melodias ensaiadas, enquanto pedalo na minha bicicleta, de regresso a casa.

Infelizmente, cantar tornou-se uma actividade de alto risco. Claro que há a possibilidade de cantarmos  sozinhos, em casa. Até podemos fazer vídeos e mostrá-los na internet (no caso de sermos bons solistas, claro, muitos artistas têm optado por esse meio). Mas cantar num coro, ou tocar numa orquestra, principalmente tratando-se de instrumentos de sopro, tornou-se numa actividade perigosa e proibida.

Ao cantar, expulsamos o ar a grande velocidade e respiramos de maneira diferente. Antes dos ensaios, além de treinos de voz, fazemos muitos exercícios de respiração, pois torna-se frequente o inspirar fundo, o que, em tempos de Covid-19, é especialmente perigoso, já que o vírus pode assim entrar profundamente nos pulmões. Também os aerossóis são um problema, os especialistas dizem que as gotículas microscópicas de saliva que expiramos mantêm-se bastante tempo suspensas no ar.

Tudo isto anula o efeito benéfico do cantar na nossa saúde; cantar tornou-se tão perigoso como tossir, espirrar e rir, mesmo respeitando distâncias de segurança. Prevê-se que fazê-lo em conjunto e/ou em público se manterá proibido durante muito tempo, o que não afecta apenas quem a isso se dedica, seja em forma de hobby, seja a nível profissional. Também o cantar na igreja continuará tabu, mesmo que se comecem a celebrar missas sob condições especiais.

A nossa tristeza é imensa; para cantores e músicos profissionais pode mesmo significar a pobreza. Restam-nos as recordações e a esperança de que a situação, algum dia, mude. Enquanto isso não acontece, permitam-me deixar-vos com uma actuação nossa, gravada em áudio no Outono de 2017, na igreja luterana dos Santos Cosme e Damião, em Stade, a qual aproveitei para fazer um vídeo ao estilo de “slide-show”. Trata-se da canção Look at the World, de John Rutter, e é acompanhada apenas ao piano.

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