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Delito de Opinião

Mundial no sofá (3)

João André, 16.06.14

  

Portugal - Alemanha (antevisão)

 

Ahh, futebol e Alemanha. São 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha. Muda aos 5 e acaba aos 10. Os alemães são uma máquina trituradora. A bola é redonda. Força da técnica contra a técnica da força. Sul contra norte da Europa. Clichés, clichés, clichés...

 

Pronto, já aliviei a coisa. Quem quiser clichés, que use um dos de cima. Na análise abaixo tentarei evitá-los.

 

A forma como o jogo vai ser visto depende enormemente de Cristiano Ronaldo. Tanto nós como os alemães compreendem que ele vai ser a personagem principal do jogo. Nós esperamos que Ronaldo domine a acção, os alemães desejam que ele seja notório pela sua ausência. Desde 2006 que Ronaldo, por uma ou outra razão, não está a 100% numa fase final. A grande questão é se estará a 100% por períodos suficientes dos 90 minutos que Portugal for jogando. Com Ronaldo na equipa, Portugal é a espaços uma equipa que joga com 10 contra 11. Mas vale por vezes a pena.

 

Neste jogo os alemães estão a ser obsequiosos: não vão jogar com o gigante Gomez (que ficou em casa) e que tem o ADN perfeito para fazer estragos aproveitando as falhas de concentração de Bruno Alves. Lahm vai quase de certeza jogar a meio campo, o que significa que Ronaldo não terá de o enfrentar e que os alemães vão jogar para a posse de bola. As laterais serão provavelmente ocupadas por dois centrais, Boateng à direita e Höwedes à esquerda, o que significa que não poderão sobrecarregar o lado esquerdo da defesa portuguesa (Ronaldo não ajuda muito defensivamente, o que expõe Coentrão). No papel, os alemães irão apresentar tácticas que ajudarão os portugueses. Difícil melhor.

 

Por outro lado há qualidade para dar e vender na equipa alemã, mesmo sem alguns jogadores. Os irmãos Bender, Gündogan, Reus ou Gomez provavelmente entrariam de caras na equipa portuguesa, mas os alemães não os têm à disposição. Podolski provavelmente estará no banco, tal como Götze, Schweinsteiger, Draxler e Klose. É ridículo. O ataque poderá passar pela frente de ataque Özil como falso 9 e apoiado por Müller, Kroos e Schürrle. O meio campo terá provavelmente Lahm e Khedira. A Alemanha poderá ter posse de bola de níveis guardiolianos, mas a incisão irá depender em grande parte dos movimentos de Müller e Schürrle vindos das alas e de Özil a fugir aos centrais. Será essencial ter bom posicionamento e não ser traído pelo movimento de Özil e Kroos. Por outro lado, é muito provável que as bolas paradas sejam fundamentais. Com quatro centrais no onze inicial e Kroos a bater as bolas paradas, seria burrice da parte alemã não as aproveitar. Mais importante ainda que os cantos serão os livres indirectos, a aproveitar agressividade excessiva do meio campo português.

 

Portugal terá de optar entre lutar de igual para igual num jogo baseado em posse de bola ou, preferivelmente (do meu ponto de vista), compreender que Ronaldo terá de ser usado em contra-ataque e jogar mais em 4-4-2 com Postiga ou Hugo Almeida a tentar criar espaço para Ronaldo aproveitar. No caso do 4-4-2, poder-se-á começar com Veloso ou Nani no onze inicial. No primeiro caso Veloso cairia sobre a esquerda e Meireles sobre a direita e no segundo Meireles estaria à esquerda e Nani à direita. Nani já jogou como médio direito no passado e pode fazê-lo novamente. William Carvalho e Moutinho terão, claro está, de começar o jogo.

 

Os problemas portugueses estarão nos momentos das substituições (o banco é limitado) e nas bolas aéreas para a zona dos laterais (são baixos e têm opositores directos bons de cabeça). Postiga e Hugo Almeida não duram 90 minutos e terão de ser substituídos, o que queima logo uma substituição. Se Portugal se vir a perder provavelmente não terá forma de ir atrás do resultado.

 

Em resumo: há que aproveitar o contra-ataque (de forma semelhante ao que foi feito com a Suécia), poupar Ronaldo durante os 90 minutos, evitar faltas que ofereçam bolas paradas, e é necessário que os centrais não sejam atraídos pelo movimento de Özil e Kroos (será fundamental ter William Carvalho). Depois, há que deixar Ronaldo correr com espaço em direcção à defesa adversária e dar oportunidade a Moutinho para fazer os seus passes. O jogo será, no mínimo, interessante e poderá ser tacticamente, pelo menos em termos de sistema, semelhante ao Espanha-Holanda. Esperemos que acabe também com uma vitória da equipa mais reactiva.

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