Mundial no sofá (17) - edição final
E agora para terminar a minha série, um balanço final feito em jeito de notas diversas.
A Alemanha foi uma justa vencedora. A melhor equipa, com a maior variedade e a maior concentração de talento. Não foi no entanto excepcional. A Espanha de 2010 teria vencido também este torneio.
A FIFA não mereceu o torneio. Deu indicações ridículas aos árbitros (terá pedido para se absterem de dar amarelos na primeira parte dos jogos); marcou jogos para a 1 da tarde em regiões quentes (e húmidas); andou com o Brasil ao colo enquanto pôde; escolhe os troféus individuais antes da final (num processo pouco transparente) e entregou-os imediatamente após a final. Temo o que vamos ver na Rússia e no Qatar.
Messi jogou, como li algures, em regime de time sharing pela Argentina. Apareceu neste jogo para marcar um golo, naquele para oferecer uma assistência e no outro para distrair a equipa adversária. Foram cameos engraçados, mas mais perto de Maradona 90 do que de Maradona 86.
Individualidades a destacar. Criativos: Alexis Sánchez, Arjen Robben e James Rodríguez (menção honrosa para Toni Kroos). Defensivos: Javier Mascherano, Giancarlo González, Ezequiel Garay (menção honrosa para Ron Vlaar). Funcionais: Philip Lahm, Arturo Vidal, Dirk Kuyt (menção honrosa para Paul Pogba). Casos estranhos: Tim Howard, Guillermo Ochoa e Keylor Navas (menção honrosa para Andrea Pirlo e David Villa).
Momentos para recordar: o voo de van Persie, os quilómetros de Sanpaoli, os saltos de Miguel Herrera, a falta de Matuidi sobre Onazi, a falta de Zuñiga sobre Neymar, as faltas brasileiras, os cartões amarelos de Fernandinho, o golo de Götze (e o primeiro também), John Boye, Akinfeev, o sprint de Robben, o sprint de Robben, o sprint de Robben, James, Rodríguez, sim, com, vírgula, o sete-a-um-nas-meias-finais que ainda custa a escrever, o calor, a húmidade, a caderneta de cromos de Balotelli, a testa de Pepe, os dentes de Suárez, o transporte do dinheiro ganês, a tatuagem de Pinilla, o jogo de "onde está o Fred?", Pirlo a jogar um jogo diferente dos outros, o fisioterapeuta inglês lesionado, os suplentes belgas, as defesas de Howard, o recorde de Klose, Neuer a jogar quatro posições ao mesmo tempo, o cabeleireiro da equipa portuguesa, os sonoríferos Irão-Nigéria e Argentina-Holanda, Krul a entrar para defender penáltis, Ochoa a fazer de homem-polvo, os números de ilusionismo de Müller, o meio-campo croata, o laser argelino, o segundo golo suíço contra o Equador, Enner Valencia, o espírito grego, o cinco-a-um-a-um-campeão-do-mundo-em-título, o golo de Tim Cahill, o cotovelo de Song, a cabeçada de Assou-Ekotto, as trocas tácticas de van Gaal.
A organização correu bem. Ninguém morreu decapitado, a malária não foi inevitável para toda a gente que esteve em Manaus, as manifestações não foram brutais nem obrigaram a cargas da polícia anti-motim, os jogos começaram à hora certa, ninguém se parece ter perdido, os visitantes foram bem recebidos (mesmo os argentinos) e as pessoas parecem ter-se divertido. Os jogos da fase de grupos foram saudavelmente malucos, os oitavos-de-final abertos e os outros jogos mais fechados como seria esperável. Houve dois jogos memoráveis (Holanda-Espanha e Brasil- Alemanha) embora não tenha havido nenhum jogo clássico.
Equipa do torneio (escolhida agora, amanhã poderia ser outra): Neuer, Lahm, Boateng, Garay, Blind, Mascherano, Kroos, Rodriguez, Sánchez, Müller e Robben. Suplentes: Navas, Armero, González, Pogba, Vidal, de Bruyne, Messi.
Equipa alternativa (um único jogador por selecção): Navas, Aurier, Thiago Silva, José Gimenez, Lahm, Mascherano, Inler, Rodriguez, de Bruyne, Sánchez, Robben.
Portugal foi uma sombra do que poderia ter sido, devido a más escolhas de jogadores, má selecção de onzes iniciais, lesões previstas, lesões imprevistas, má preparação e decisões parvas em momentos cruciais. A única coisa boa é que terá de obrigar a uma renovação da selecção. O mau é que a geração que chega é menos talentosa do que a que sai de cena. Vá lá que o próximo europeu é de 24 equipas e só Andorra é que não se qualificará.
A nível pessoal, uma falta de televisão em casa e uma quebra (ainda não resolvida por causa de burocracias) no serviço de internet garantiram que não visse tantos jogos como seria normal. Isso não foi mau de todo, impediu a saturação. Só me faltou ver alguns jogos mais na companhia de amigos e no café para poder insultar jogadores e árbitro com todo o à vontade. Esta gente do centro e norte da Europa é muito calminha...